Garantida maior estabilidade política, económica e social, o país tem vindo a atrair investimento externo, em particular no sector automóvel, aeronáutico e tecnológico. Para Adil Chikhi, Diretor de Marketing estratégico da Agência de Desenvolvimento e Investimento de Marrocos, as empresas portuguesas que queiram investir, em particular na área das energias renováveis, têm uma enorme oportunidade para se desenvolver naquele mercado (veja aqui a entrevista na íntegra).
Rui Cordovil, conselheiro económico e comercial da Embaixada de Portugal em Marrocos, está convicto que atrás das empresas que já estão no mercado, muitas outras virão. “Em 2011 ultrapassámos a barreira das 1000 empresas a exportar para Marrocos. Pela primeira vez este número foi alcançado e ultrapassado”, diz com satisfação durante a entrevista que pode ver em destaque neste artigo.
O conselheiro económico refere inclusive que o modelo português tem sido aproveitado, em algumas áreas, para a modernização e desenvolvimento dos seus projetos. O caso do sector eólico é exemplo disso. O investimento que vai ser feito nesta área é com base no modelo português. Quer isto dizer que as empresas portuguesas têm contribuído também para o progresso de Marrocos. Um país que dá a acesso a outros mercados pelos acordos de livre circulação que tem firmados com países como os Estados Unidos, por exemplo.
Marrocos está neste momento a negociar um novo acordo com o Canadá e tem também um acordo com os países árabes. Nesta perspetiva, quem produz ou transforme aqui os seus produtos pode exportar, em livre circulação – sem taxas aduaneiras – para estas regiões ou países. Para além disso, acrescenta Cordovil, o país tem excelentes relações com os países de África ocidental, e isso pode ser uma mais valia para as empresas que possam abordar mercados a sul, compostos por países em processo de desenvolvimento.
“É verdade que Marrocos é um país em crescimento, e portanto goza de alguma reputação e já tem alguma capacidade de ajudar esses países a desenvolverem-se e a passarem também por esse processo de transformação que aqui aconteceu”, diz Rui Cordovil.
Questionado sobre a reputação e imagem da marca Portugal em Marrocos, o conselheiro diz, esboçando um sorriso, que apesar da proximidade, ainda existe algum trabalho a fazer para melhorar a percepção do nosso país.“Há reconhecimento da qualidade dos produtos portugueses e da relação qualidade-preço, em particular quando comparado com outros países como Espanha, por exemplo, que é um grande fornecedor de Marrocos. Acho que Portugal tem espaço para vender os seus produtos e tem aqui ótimas oportunidades para investir uma vez que o país vai continuar a desenvolver-se”, termina.
Exportação e investimento com sabor português
As exportações portuguesas para Marrocos têm vindo a aumentar, em particular nestes 2 últimos anos. Em 2011 alcançámos 387 milhões de euros, o que correspondeu a um aumento de 28% face a 2010. Marrocos foi o 15º país de exportação portuguesa a nível mundial.
Em 2012 também se verificou um aumento na mesma ordem de valores, tendo atingido os 331 milhões de euros de exportações para o país africano, entre janeiro e agosto. Atualmente Marrocos é o 12º país de exportação portuguesa. As máquinas e equipamentos, o ferro, a madeira, a cortiça e algumas matérias têxteis são os mais significativos, embora haja uma grande diversidade de produtos exportados.
Em termos de investimento há também oportunidades para as empresas portuguesas crescerem. E há casos inspiradores, como o da Sovena, por exemplo. Em parceria com o grupo marroquino SOMED, a empresa investiu 15 milhões de euros em 1300 hectares de olival, e num lagar que lhe permite transformar 350 toneladas de azeitonas por dia. Qualquer coisa como 1,6 milhões de litros de azeite no ano de maturidade do projeto, em 2017.
É a cerca de 1H de Marraquexe que encontramos a matéria prima que “fala português”. Ali cultiva-se a estratégia de crescimento da Sovena, que exporta para os Estados Unidos a totalidade da sua produção.
As marcas de Portugal
Nas ruas de El Jadida, mais precisamente na antiga fortificação de Mazagão (construída pelos portugueses no século XVI e classificada como património mundial da Unesco) ainda se encontram nomes portugueses. A língua também guarda expressões que soam a mais do que simples memórias. Inchalá, o nosso oxalá, é uma delas…
Este é um dos locais onde nos cruzamos com um passado de relações históricas e comerciais entre os dois países. Locais que receberam sementes que hoje podem ajudar Portugal a colher mais e melhores resultados.
Num oceano de 600 marcas internacionais, encontramos algumas portuguesas no maior Centro Comercial do país, o Marroco Mall, em Casablanca. Shopping que, no primeiro ano, recebeu mais de 15 milhões de visitantes, traduzindo a dinâmica da economia e o aumento do poder de compra.
Foi o caso da Parfois que conquistou, naquele Shopping, a sua 4ª montra em Marrocos. Uma estratégia de crescimento para novos mercados que, neste caso, obrigam a adaptar as coleções ao perfil das consumidoras árabes, que privilegiam os dourados e brilhantes. Com presença em 40 países, a Parfois abriu a primeira loja em Marrocos em Outubro de 2010, em Marraquexe, e está já prevista a inauguração de um novo espaço este ano, em Fés, reflexo da aceitação da marca que, sendo europeia, tem boas perspetivas de expansão.
No maior centro comercial de África, há também sabores nacionais a refrescar a curiosidade do mercado. A Compal conseguiu impor a sua proposta de valor, feita por exemplo de sabores nacionais que concorrem com o tradicional sumo de laranja à venda em qualquer banca de rua a preços muito acessíveis.
Compal em árabe diz-se…
…Compal! A marca que se deu a conhecer ao mercado marroquino na feira de Barcelona, é hoje uma referencia para o consumidor local. No supermercado as prateleiras enchem-se de embalagens que nada de diferente têm das portuguesas e que, na totalidade, vêm de Portugal. As rotulagens foram projetadas já tendo em conta o mercado árabe e por isso Marrocos acaba por ser um mercado teste importante para entrar noutras regiões.
Argélia, Tunísia, Líbia já são mercados de sucesso para a marca portuguesa, faltando apenas o Egipto para se completar a presença em todo o norte de África. Os Emirados Árabes Unidos e Omã também já são uma realidade através de mais uma parceria com o segundo maior distribuidor da região, que faz chegar a Compal a outras superfícies onde a língua árabe se faz ouvir.
No início não foi fácil afirmar a marca, uma vez que os consumidores não conheciam a qualidade do produto. A estratégia, explicou-nos Serge Elamri, diretor geral da Groupex, o distribuidor exclusivo, passou por muitas provas de degustação. Hoje os produtos portugueses têm uma boa notoriedade no mercado.
Um mercado em que predominam marcas francesas devido à proximidade com a língua (o francês é a língua falada pelos mais jovens) e com as referenciais culturais que vêm da televisão francesa. A que os mais jovens mais vêm no país.
André Caseirão, Gestor dos Mercados África e Médio Oriente da Sumol/Compal, explicou ao Imagens de Marca que a diferenciação tem de fazer-se pela qualidade já que o preço tem dificuldades em competir com os locais devido aos impostos pagos por produtos importados.
O principal concorrente é, curiosamente, o sumo de laranja de rua que, em Marrocos, tem enorme expressão. Um concorrente natural que vai continuar a fazer frente à marca portuguesa e que leva a Compal a ter de olhar para outros sabores, como o ananás, o pêssego e a pêra para continuar a crescer na lista de compras do consumidor.
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- As principais entrevistas realizadas pela nossa equipa de reportagem, na íntegra.
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