Admito que não fiquei surpreendido quando, hoje de manhã, me apressei a ver o Observador – tem um layout muito interessante e uma fácil visualização em telemóvel, mas já o esperava depois de ouvir José Manuel Fernandes, o publisher do novo meio digital, na conferência O Poder dos Media, que comemorou os 20 anos da GCI e na qual falaram ainda o professor e jornalista António Granado e Pedro J. Ramírez, ex-director do El Mundo e, seguramente, um dos mais respeitados jornalistas do mundo.
O Observador começou bem, mas a parte mais difícil do caminho só agora arranca: fazer um jornalismo sem correntes nem amarras, que fuja aos lugares-comuns, esteja aberto a todos os pontos de vista, seja explicativo e verdadeiramente multimédia.
Foi esta a mensagem que José Manuel Fernandes, aliás, deixou nessa conferência. A juntar a tudo isto terá de existir um jornalismo que se pague a si próprio, porque só assim ele garante a sua independência. O modelo de negócio nunca foi tão fulcral no futuro do jornalismo e, certamente, nunca foi tão difícil saber qual o caminho certo, uma vez que as receitas de publicidade digital ainda não permitem suportar todos os custos.
É aqui que entra o actor principal da minha crónica de hoje, Pedro J. Ramírez. Bem sei que já lhe dediquei umas linhas, há dois meses, mas não posso deixar passar este espaço para analisar o grande discurso do jornalista espanhol, um apaixonado pelo iPad e Twitter e que vê futuro dos media no jornalismo de investigação – sempre assim foi -, no jornalismo explicativo, que escalpeliza as hard news, e na opinião plural e fundamentada.
Segundo Pedro J., há hoje mais leitores que nunca e o menor número de jornalistas de sempre. “Ganhámos milhões de leitores online, que não pagam, e perdemos milhares de leitores em papel, que pagavam”, explicou. Menos dinheiro nos media e menos jornalistas tem um significado muito claro: uma maior dependência do poder político e económico, o que cria uma dinâmica de auto-censura nas redacções dos jornais.
O futuro, claro, está no digital. Um jornal distribuído no iPad custa o mesmo se for para 1.000 assinantes ou um milhão. “Temos o desafio de construir um novo modelo de negócio – já no século XIX assim era. Acho que é o momento para abandonarmos o caminho da gratuitidade e começar a cobrar pelo valor acrescentado. A chave da questão são as assinaturas digitais”, explicou.
Todos os projectos que não conseguirem dar este passo vão continuar dependentes de poderes políticos e económicos. Se a chave da questão são as assinaturas digitais, então terá de existir um compromisso dos leitores. Eles têm de estar dispostos a pagar pela independência e qualidade.
Para o final, Pedro J. deixou uma das mais poderosas frases do debate: “As gráficas, distribuidoras, empresas de papel vão passar mal. Mas nós, os jornalistas, vamos voltar a por-nos de pé”, explicou. É uma frase cruel para estes parceiros de longa data dos jornalistas, mas provavelmente o ex-director do El Mundo terá razão.
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