No início de um novo ano, e especialmente depois do confirmado fiasco Maia, o tempo ganha um especial destaque nas nossas vidas. Brindamos a passagem para o minuto zero com champanhe ou similar, engolimos passas na esperança de não engolirmos sapos, mudamos de calendário para voltarmos a contar o tempo do princípio convencionado.
Sem desmerecer quaisquer outros votos que recebi, uma das mensagens de boas festas que mais me marcou foi a que me desejava “um Feliz Natal em família, com abundância, saúde e tempo.”
Até aqui nunca ninguém me tinha desejado isso: tempo. Mas é pertinente.
Segundo Aristóteles, ‘O tempo é a medida do movimento’. Por outras palavras, o tempo não pára e é com isso que temos de lidar diariamente, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo e assim por diante. Por essas e outras é que o meu passaporte expirou; o tempo de jogo acabou e o Sporting não marcou; estou prestes a fazer 25 anos de casado; o meu filho já tem bigode e a banana da fruteira ficou pintalgada. O mesmo tempo marca todas as coisas, sejam banais ou importantes.
É comum dizer-se “antes tínhamos mais tempo”, mas isso não passa de uma má avaliação da realidade. O tempo é igual há séculos, mais minuto, menos minuto, nós é que arranjamos maneira de rechear a nossa agenda com mais tarefas do que as que nos seria possível realizar, e que depois têm de ser feitas à pressa ou adiadas e acumuladas para outra data.
Regra geral somos maus gestores do nosso tempo e isso se reflete em todos os aspetos da nossa vida social e profissional. Recorremos a estratagemas semânticos para justificar os nossos atrasos mais triviais, do género gps-vago “Estou quase aí”, até às desculpas esfarrapado-informáticas-da-treta “Não recebeu o email que enviei ontem? Deve ter dado algum erro, vou reenviar nesse instante…”
A pontualidade é quase sempre uma supresa, habituados que estamos aos 15 minutos da praxe somos elogiados quando conseguimos cumprir o horário estabelecido. Sei de um grego que uma vez justificou os seus habituais atrasos dizendo “É claro que me atraso, pois detesto esperar!” Sei que não somos a Grécia, mas temos parecenças.
Curiosamente não nos atrasamos para o cinema, para a bola ou para aquela peça de teatro onde não permitem a entrada após o início do espetáculo. Quando há algum rigor na execução dos horários conseguimos driblar as complicações de última hora, evitar o trânsito hediondo, não ficar na conversa à porta da agência. Claro, não somos menos capazes do que qualquer suíço ou alemão, somos mais… flexiveis.
Seja como for, desejo a todos isso mesmo: tempo. Organizem-se, planeiem, ganhem tempo para depois fazerem com ele o que bem quiserem e o melhor que puderem. Feliz 2013!
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