Certamente já todos pensámos como será a nossa vida quando nos reformarmos e perguntas como “Qual será o valor da minha pensão?” ou “Como vou ocupar os meus dias?” já fizeram parte do nosso pensamento. Será também certo que são questões em que se pensa quando se está na casa dos 40 ou 50 anos, pois quando se é jovem a idade da reforma ainda nos parece estar longe e ser uma realidade distante.
Hoje em dia, a esperança média de vida cresceu e estima-se que ao chegarmos aos 65 anos teremos, ainda, mais 18 anos de vida, que certamente queremos que sejam bem vividos. Viver, em média, até aos 83 é uma boa notícia, mas traz novos desafios. Foi este o ponto de partida para a Conferência “Inovar a Reforma, um apelo a todos nós”, promovida pela Fidelidade Seguros, esta semana, na Fundação Champalimaud, em Lisboa.
“Não se trata de pensar na reforma, trata-se de pensar numa vida que vai até ao fim, com a reforma lá metida pelo meio”, uma ideia de continuidade numa vida que não para só porque se chegou à idade da reforma, nas palavras de Carlos Liz, sócio da IPSOS-APEME e coautor do estudo “Inovar a Reforma”, apresentado na conferência.
Segundo o estudo, apenas 33% dos portugueses poupam para a reforma, apesar de 90% ter expectativas de menores rendimentos nesse período. Para os autores, é preciso mudar a atitude passiva dos portugueses face à reforma e garantir que esta não gere uma rutura, nem uma perda de rendimento, de ambições e de qualidade de vida. É preciso melhorar os níveis de literacia financeira, desenvolvendo uma nova consciência de poupança e investimento para o futuro.
Em 2011 a redução do valor da pensão devido ao impacto do fator de sustentabilidade na reforma foi de 3,1%. A estimativa é que em 2050 seja de 35,8%. Números que assustam o desejo de estabilidade financeira nessa fase. Para Rui Dias Alves e Carlos Liz, há 3 grandes frentes de ação para este problema: promover a poupança para a reforma; aumentar a importância da qualificação dos indivíduos para maior valorização do período de reforma e manter a ligação das pessoas mais velhas ao mercado de trabalho.
É um período que tem, portanto, de ser preparado com antecedência, de forma a ser valorizado e a evitar a depressão associada à inatividade, perda de rotinas laborais, e consequentemente possível perda de autoestima, pois muitas vezes somos valorizados pelo que fazemos e não pelo que somos, como refere Alain de Botton. O filósofo e escritor acredita que é o trabalho que dá sentido à nossa vida para nos sentirmos uteis. Botton marcou presença na conferência, com a intervenção “How to live wisely and well – planning the presente for security and hapiness in the future”, e falou com o Imagens de Marca sobre este tema.
Para Alain de Botton o grande segredo prende-se com a ideia de que “precisamos poupar dinheiro para a reforma, mas principalmente, precisamos de poupar sabedoria”. Desta forma, conseguiremos, não só, gerir melhor o nosso dinheiro nessa etapa da vida, como viver melhor e sentirmo-nos mais uteis. “Somos os autores das nossas próprias bibliografias”, dizia o filósofo à plateia tentado inspirar quem o ouvia a escrever, hoje, o que poderá ser o seu próprio futuro amanhã, pois se pensarmos e analisarmos a questão, não sentiremos tanta ansiedade, e sim mais segurança, quando o momento chegar. “Não há reação mais natural do que não querer pensar na velhice quando se é novo. Mas devemos fazê-lo, pois a única forma de tornar a velhice agradável é ter pensado muito sobre isso durante toda a vida”, afirma Alain.
Uma ideia partilhada por Rui Dias Alves, Presidente Executivo da Return on Ideas, empresa de consultoria em marketing estratégico e coautor do estudo “Inovar a Reforma”, que afirma que este “é um tema que se for assumido em consciência tem uma preparação maior do que se for um tema assumido por negação”. Para Rui Dias Alves, o estudo e a conferência são apelos à consciência que ao longo da nossa vida há ações que podemos tomar que nos ajudam a preparar a reforma, para que não haja uma descontinuidade no momento em que deixamos de trabalhar. Mas com a crise económica instalada, é ainda mais difícil poupar. Sabendo disto e quando questionado sobre porquê falar neste assunto agora, o coautor do estudo explicou-nos que “este é um momento em que as pessoas estão a despertar para a poupança, é um bom momento para começar a dar mais peso a esta conversa”.
A conferência pretendia, então, estimular uma reflexão e consciência para a etapa da reforma no sentido de reinventar uma forma de estar nessa fase da vida. Para isso é preciso reinventar o próprio significado que se dá à palavra reforma, como refere Carlos Liz ao Imagens de Marca.
O papel das marcas para abrir mentalidades sobre este tema
Para Carlos Liz, as marcas têm um papel fundamental no estímulo da reflexão sobre este tema: “As marcas têm tido um papel de grande importância no equilíbrio e desenvolvimento da vida portuguesa. Daí ser fundamental, agora, pensar a reforma em termos de produtos, serviços e marcas, pensando de uma forma não monomarca, mas de forma convergente de marcas. Marcas fortes que consigam atrair a si outras marcas e que consigam criar propostas de valor para os consumidores”. E acrescenta “A procura está cada vez mais complexa, exigente, por isso quando nós procuramos, para um produto como a reforma, encontrar uma solução e ter uma marca por trás, temos que ter uma marca que trate de aspetos de poupança financeira, mas temos que ter uma marca que também trate de aspetos sobre como tornar melhores as relações pessoais que as pessoas têm ao longo da vida. E grandes marcas, como esta que organizou o evento e esteve na base destas conferências, a Fidelidade, tem um papel aglutinador de marcas de outras áreas, para poder responder a um consumidor que é tudo menos linear, que é tudo menos unidimensional”.
Jorge Magalhães Correia, Presidente da Fidelidade Mundial e Império Bonança falou também com o Imagens de Marca, sobre a importância das marcas e empresas contribuírem para este tipo de debates.
Em jeito de conclusão, percebemos que teremos um tempo de vida acrescido que tem que ser acompanhado por uma nova consciência de sustentabilidade individual, que garanta condições que nos permitam viver em pleno essa etapa, dando-lhe mais conteúdo e encarando-a numa perspetiva de continuidade de sonhos e ambições.
Os oradores deixam, no fim, o apelo de que todos temos a missão de contagiar amigos, familiares, colaboradores, clientes e colegas a inovar a forma como vemos a reforma.
Comentários (0)