Teoria da conspiração: não demorou muito a aparecerem as primeiras histórias que apontam para razões obscuras por detrás do fecho do megaupload. A verdade é que é um site que já existia publicamente há bastante tempo e a ser verdade que prejudicava a indústria criativa, então porque demorou tanto tempo a ser fechado? Pois a mais recente teoria da conspiração indica que o que originou o fecho do megaupload foi uma tentativa para impedir os seus proprietários de lançar um serviço de música absolutamente revolucionário que iria mudar por completo o panorama da indústria da música e o papel dos seus actuais players. Segundo a Digital Music News, estes estavam a preparar-se para lançar a MusicBox, uma loja alternativa de música, baseada na cloud e com a qual os artistas teriam oportunidade de fazer mais dinheiro do que com qualquer editora. Isto porque esta loja permitiria aos artistas venderem as suas criações directamente ao público, ficando com 90% de todos os ganhos. Megaupload iria inclusive pagar aos artistas por músicas que tinham sido descarregadas gratuitamente. De acordo com o que o seu fundador, Kim ‘Dotcom’ Schmitz, disse ao DMN, já teriam arrancado com um teste com 1 milhão de utilizadores e os economics batiam certo. Isto de alguma forma explica porque o Megaupload teve o suporte de tantos dos considerados grandes artistas.
Trago-vos esta história, não para discutir convosco se esta teoria faz sentido, nem tão pouco para vos convencer porque acho que o Megaupload não deveria ser fechado. Falo-vos antes de um fenómeno que está associado a este caso, que é o facto de ser um site de alojamento de ficheiros que testa uma ideia que pode revolucionar uma industria que não era a sua, e, que representa verdadeira inovação disruptiva.
A este caso podemos somar outros tantos semelhantes, como o caso da Apple e o lançamento do ipod, da loja itunes, do iphone e do ipad. Porque é que têm que ser players de fora a introduzir inovação disruptiva nos mercados?
Colocando a questão noutra perspectiva, porque não foi uma Sony Music Entertainment a ter a ideia do itunes ou da Megabox? Porque não foi uma Nokia que inventou o iphone? Porque não foi um Barnes&Noble a lançar uma amazon.com? porque não foi um Sotheby’s a criar o ebay? Porque não foi uma PT a criar o Skype? Ou porque não foi a recentemente falida Kodak a lançar a fotografia digital?
O facto é que as companhias desenham politicas e estratégias relativamente a inovação que apesar de fazerem todo o sentido e estarem absolutamente correctas, estas conduzem-nas inevitavelmente a um futuro que é, no mínimo, duvidoso.
A inovação disruptiva surge sobretudo da combinação de duas situações: Reinvenção do processo de fazer determinada tarefa com a junção de uma nova competência até aqui não utilizada na indústria em causa (ex: eCommerce). Ora implementar o resultado desta inovação, implica, na grande maioria das vezes, canibalização. É o novo a tirar lugar ao velho. É um modelo de negócio que ainda não provou a tirar espaço ao modelo de negócio estável e que é o pilar central de toda a actividade de uma empresa.
Não admira por isso que todos os livros de estratégia, que todos os mercados financeiros, penalizem as empresas que seguem este caminho de substituição, arriscado e com um custo evidente de curto prazo: menos lucros ou até mesmo prejuízo.
De facto, um líder de indústria não se sente motivado a adoptar uma inovação disruptiva na sua área de negócio, nem mesmo quando novos players a introduzem no seu mercado. A reacção imediata é lutar. É menosprezar. É tentar a todo o custo retirar-lhe o mérito e o crédito. E só quando a ameaça de novos players se transforma em concorrentes de peso, é que as empresas incumbentes são compelidas a reagir e a adoptar a nova tecnologia. Numa altura em que quase sempre é já tarde de mais…
E é este fenómeno natural de comportamento humano, que diria até mesmo de princípio Darwiniano, que levou ao crescimento verdadeiramente estratosférico da Apple, ao facto dos principais players de eCommerce não serem empresas de retalho físico, ou, ao nascimento de agências criativas puramente digitais, como é o caso da Excentric.
NdA: podem ler mais sobre este tema num livro super interessante:
“The Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail”,
de Clayton M. Christensen – ISBN-13: 978-0875845852
Artigo fantástico. Parabéns Miguel. Muitos pensam apenas nos custos de agir, mas esquecem-se dos custos de… não agir.