Estaremos a ficar esmagados com informação, sem tempo de qualidade para reflexão e decisão? Somos hoje melhores gestores do que 25 anos atrás em que escrevíamos em papel e falávamos uns com os outros?

Lembro-me como se fosse hoje quando em 91 ingressei como management trainee na Unilever que no nosso grupo de Marketing existia apenas um computador, aliás bem feio e de difícil utilização, os mapas de quotas de mercado eram ainda feitos com canetas BIC de várias cores, e que para apresentações ao Board tínhamos uma única impressora que utilizava as recém estreadas folhas transparentes da HP e que demoravam para imprimir cada uma exactos 26 minutos.

Os telefones móveis surgiram como ferramenta de trabalho para os senior managers em 1993, quando da implementação de um plano de guerrilha no mercado para fazer face ao mais recente lançamento do nosso arqui-rival Procter & Gamble. Esses aparelhos na verdade só permitiam fazer chamadas e, na altura, apenas na Grande Lisboa e no Grande Porto.

Lembro também que as apresentações das Agências de Publicidade eram com pranchas enormes desenhadas (só mais tarde apareceram as impressas) e em que o talento do apresentador contavas muito mais do que a apresentação em si, e que a sua capacidade de contador de histórias era assim fator determinante na venda.

Qualquer comparação com os dias de hoje fica ridícula e fora de contexto, mas acima de tudo creio que importa refletir é se na essência a qualidade das nossas decisões, se no médio longo prazo as decisões tomadas, se as estratégias implementadas, se os business plans aprovados e se no geral a qualidade intrínseca da gestão melhorou na mesma proporção da quantidade e qualidade dos instrumentos que foram sendo colocados à nossa disposição.

Eu diria que hoje em dia é mais fácil parecer eficiente e bom gestor, pois o aparato de boa utilização das novas tecnologias beneficiam os “vendedores de fumo”, mas continuo a acreditar que a essência dos métodos, fundamentos e princípios continuam os mesmos de sempre e que no final do dia, apenas as boas estratégias continuam a vencer.

O que se tornou mais difícil é encontrar um bom equilíbrio na formação de equipas em que se complementem “vendedores de fumo” com verdadeiros gestores numa combinação vencedora.

De igual importância e enorme dificuldade nos dias de hoje é a capacidade de filtrar informação. Somos literalmente bombardeados com toneladas de informação diariamente que nos chega pelos emails, whatsapp, sms, internet, blogues, canais corporativos, e até pela media (passo a ironia).

Eu, assumido early adopter e viciado q.b. em devices confesso que me faz alguma confusão os extremos. Apesar disso conheço óptimos gestores que ainda hoje não ligam um computador e se recusam a ter um smartphone, como também conheço pessoas mega conectadas, capazes de elaborar excelentes powerpoints e sempre com os last devices mas que não conseguem definir qual o desafio profissional que têm pela frente.

Como em quase tudo na vida, a beleza estará no meio termo, numa pitada e bom senso, discernimento que baste e como sempre, uma lufada de sorte.

#tecnologianãoétudo