O grau de dependência do Wi-Fi, a % de bateria, verificar o status das minhas redes 8 a 10 vezes por hora, de esquecer de tudo menos do Smartphone são alguns dos sintomas mais ligeiros…
A proliferação das redes sociais, ultrapassando a marca dos 3 bilhões de pessoas no mundo inteiro que de forma regular acedem e interagem, introduziu novos comportamentos, regras hábitos e costumes, alguns deles ainda difíceis de digerir.
Não gostaria de generalizar ou estereotipar em jovens, teenagers, millennials ou nerds este fenómeno, desculpem-me os mais conservadores, este fenómeno é universal, veio para ficar e não conhece sexo, idade, status ou Países ou regiões.
No fundo, as redes sociais refletem e são o espelho, numa forma gamificada e digital, de velhos hábitos e tradições. Pensem nas mais de 600 mil pessoas que semanalmente liam a revista “Maria”, na quantidade de revistas cor de rosa que eram vendidas, e o status que representava aparecer na capa, as revistas de reportagens e de escândalos, as revistas sensuais e pornográficas, os antros de conversa fiada e pura “fofoca” dos salões de estética, femininos e masculinos, as tardes de esplanadas a comentar a vida alheia, o habito tão antigo das vizinhas a janela a espreita de novidades da vida alheia, e tantos outros hábitos e costumes que hoje em dia estão ao alcance de um clique, facilitados pela tecnologia.
Fontes fantásticas de informação e atualização, ferramentas de trabalho e pesquisa, conhecimento e partilha, as redes sociais tem um lado construtor, pedagógico, útil e relevante que não pode nem deve ser menosprezado ou ignorado. Pelo contrário, deve ser enaltecido e, como em quase tudo na vida, será na ponderação de bom senso e experiência que vira o equilíbrio saudável.
Quer no âmbito profissional, quer mesmo pessoal, começam a surgir algumas ferramentas que nos ajudam a extrair o máximo de valor da nossa presença nas redes, qualquer que seja o nosso objetivo.
No entanto, as redes ganham fama pela intromissão nas rotinas e hábitos de relacionamento social, e na capacidade de destilar “puro veneno” em comentaristas de bancada, que de repente se tornam especialistas em quase tudo.
Se tivéssemos que resumir os sintomas, os alertas de que nós, ou os nossos amigos começam a ficar viciados, diríamos que esses sinais são evidentes quando:
1) a primeira coisa que se faz ao acordar é verificar o smartphone e ver que novas interações, que novos likes ou followers, que novos comentários fizeram nos nossos posts, etc….
2) colocamos like nas nossas próprias imagens, posts, vídeos;
3) não conseguimos imaginar uma refeição sem o smartphone bem ali ao lado, chegando a ficar com alguns suores frios se este curto distanciamento ocorrer;
4) damos check-in na paragem de metro, no supermercado e na lavandaria;
5) não conseguimos imaginar uma ida na casa de banho sem levar o smartphone;
6) não nos lembramos da ultima vez que saímos a rua, nem que seja para ir a padaria, sem levar o smartphone;
7) as selfies são mais de metade das minhas fotos;
8) vamos guardando algumas imagens de arquivo para eventuais necessidades de posts posteriores;
9) perdemos “aquele” momento do concerto, do Papa na Praça São Pedro, aquele golo no jogo de Domingo, a entrada em palco do nosso filho na peça da escola, porque estávamos, obviamente, a fotografar ou a filmar o momento;
10) não concebemos viver o momento sem postar para o mundo, aquele pôr do sol, aquele momento na praia, aquela cerveja gelada no fim da tarde, aquele prato delicioso, aquela luz de Lisboa, aquela formação de nuvens na janela do avião. Saborear o momento passou a ser secundário face a urgência da partilha. Óbvio que nas horas seguintes fica o vício de verificar quantos likes, comentários e shares obtiveram os nossos posts;
Antes, acreditávamos que viver o momento, saborear a intensidade, observar cada detalhe e “estar ali”, em vez de postar dali, provocaria uma memoria futura mais forte, mais rica e mais “saborosa” do que um mero registo electrónico.
Com o tempo, as regras de educação, convivência, rituais e mesmo tradições serão aos poucos incorporadas nestas novas formas de nos relacionarmos, de modo que, tal como o telefone com fios e a televisão revolucionaram outra gerações, as redes sociais estão a revolucionar esta, mas que os princípios e a essência humana prevalecerá.
“Never before has a generation so diligently recorded themselves accomplishing so little.” – unknown.
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