A polarização e as redes sociais

22 de novembro de 2016

A polarização e as redes sociais

Tiago Silva Lopes, Diretor de Internet e Serviços Móveis do Meo

As redes sociais são um indiscutível fenómeno dos últimos anos e certamente continuarão a estar presentes nas nossas vidas por muitos e bons anos. Apesar de tudo o que trouxeram de positivo para o mundo há uma tendência para polarização de opiniões, especialmente no que diz respeito a temas políticos e mais pessoais, que na minha opinião é cada vez mais preocupante. Não está naturalmente em causa o direito à liberdade de expressão mas sim a reeducação da sociedade no que diz respeito à discussão dos temas mais fraturantes no palco mundial que são as redes sociais.

Temos muitos desafios pela frente para mitigar esta crescente polarização. A propagação de rumores sem qualquer tipo de confirmação ou fonte fidedigna é um exemplo disso e tem aumentado de forma exponencial, sendo as eleições americanas um exemplo muito recente disso mesmo. Parece que voltámos ao tempo da Inquisição em que não havia presunção de inocência e cabia ao acusado provar que o facto que lhe apontavam não era verdadeiro.

Também o fenómeno das câmaras de eco foi agudizado pelas redes sociais, procuramos cada vez mais relacionarmo-nos com quem pensa da mesma foram que nós e excluímos quem tem uma opinião diferente. Outro aspeto interessante das redes sociais, é que todos estão preocupados em dar a sua opinião mas muito poucas pessoas estão realmente interessadas em ouvir os outros e se envolverem em conversas construtivas, é o efeito selfie, it’s all about me, me, me…

Mas talvez o fenómeno mais interessante seja o da convicção profunda da nossa razão e da tentativa de fazer os outros mudar de opinião nestes debates em praça pública. Por muito abertos e disponíveis para entender visões diferentes, mudar de opinião, especialmente em temas de maior envolvimento emocional é extremamente difícil, e raramente essas mudanças acontecem diretamente por influências externas, mas sim na sequência de processos introspetivos, interiorizando a nova informação e um novo modo de olhar para o problema. O que acontece hoje nas redes sociais promove precisamente o contrário e em vez de facilitar diálogos edificantes acaba invariavelmente em insulto e maior afastamento, provocando a tal polarização. Embora o apelo ao sentimento seja normalmente mais eficaz que a racionalização, as nossas crenças funcionam um pouco como os músculos, quanto mais pressionadas e desafiadas mais fortes se tornam.

Não tenho soluções, mas acredito ser um problema grave da nossa sociedade que precisa ser amplamente debatido. Para quem leu este artigo apenas dois pensamentos, de pessoas bem mais sábias do que eu, e que embora antigos são hoje muito relevantes:

- nunca responda/comente a “quente”. Respire fundo, conte até dez, durma sobre o tema, interiorize a necessidade de ter um processo de esfriamento para evitar responder sem pensar. Quantas vezes nos arrependemos de algo que dissemos… as redes sociais têm o condão especial de deixar essa resposta/comentário irrefletido para sempre gravado na internet e à vista de todos;

- muitas vezes a melhor resposta é o silêncio. Muitas discussões online transformam-se em autênticas batalhas campais que descem rapidamente a níveis nada dignificantes e acabam por perder o objetivo inicial de debate para se tornarem em lutas pessoais em que o que importa é ganhar a luta e não aprender e crescer com o debate.

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Por Tiago Silva Lopes

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