Nos primeiros anos da minha vida profissional tive a sorte de trabalhar com um genuíno empreendedor. E de tudo o que aprendi, que foi muito, fica uma frase que resume a vida de quem empreende: “O que se incentiva é o que se obtém”. Parece uma frase de causa-efeito tão simples, um lugar comum, mas atrás destas poucas palavras está tanto trabalho, tanta luta, interna e com os outros, que só quem tem tempo para parar e ir analisando, com um olhar distante o seu dia-a-dia a gerir uma empresa e a tentar conquistar colaboradores e clientes, é que sabe e entende a força desta frase.
Sempre trabalhei em empresas já criadas, com equipas, clientes e faturação. E, mesmo quando liderei novos projetos, que tinham de dar os primeiros passos e depois andar pelo próprio pé, a estrutura estava assegurada para dar o necessário apoio. Agora, aos 41 anos, estou a viver o início de tudo, estou a ajudar a escrever a história de uma nova empresa: a bela e tão famosa startup. E estou a descobrir que tudo o que à vista tem de glamoroso e mediático, tem de duro e exigente nas costas.
A relação “empreendedor – investidor” é muito interessante: de um lado está alguém que conseguiu olhar a realidade com abertura e liberdade e encontrar uma oportunidade de fazer algo inovador e diferenciador – este é quem empreende –, e do outro estão os investidores que na verdade são empresários (talvez muitos deles tenham sido empreendedores) que tentam pôr a cabeça de fora das suas complexas realidades, fazem um esforço por deixar de lado preconceitos ou lições aprendidas no passado para, com a alma aberta e sem juízos de valor, ouvir uma nova ideia. E esperam que essa seja “A IDEIA” que irão agarrar para fazer renascer o seu negócio.
E mude já de ideias se acredita naquilo que se vai ouvindo nos media. Não andam aí centenas de jovens geeks com ideias mirabolantes a receber milhares de empresários que não têm o que fazer ao dinheiro. Não é isso que estou a viver. O que eu vejo, sim, é um duelo amigável, em que o empreender tem que ir muito além de ter uma bela ideia de negócio. Tem de conquistar o investidor, ganhar a sua confiança, provar e comprovar que é merecedor da sua atenção e das suas lições. E só depois disso vem a oportunidade de fazer algum negócio juntos. Este é um trabalho moroso, rigoroso e que exige muita perseverança.
Por outro lado, também o investidor tem muito a provar, especialmente a si próprio, pois tem de ter a humildade de descer das suas “torres douradas” para tentar entender, compreender e acreditar em alguém que lhe traz uma ideia, de que ele à partida não precisa. Também eles têm que ser perseverantes, para contrariar o estabelecido e procurar o desconhecido.
Uma coisa é segura: se lutarem pelo que querem, hão de conseguir. Afinal, “o que se incentiva é o que se obtém”.
Joana Carravilla, Country manager da E.Life Portugal
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