Viajar serve para diversas coisas, para relaxar, para visitar a família e rever amigos, para fazer negócios, para namorar, para praticar desporto, para conhecer restaurantes e experimentar novos paladares, serve até até para fazer turismo e tirar aquelas fotografias que todos os turistas têm que tirar. Mas inevitavelmente quando viajamos traçamos paralelos entre o lugar que visitamos e o lugar onde vivemos. A partir das nossas referências locais é que avaliamos o outro lugar.
Desde que saí do Brasil procurei sempre fazer essa análise sob o ponto de vista positivo, procurando as diferenças mas não as interpretando como melhores ou piores. As diferenças culturais são isso mesmo, aspectos diferentes em ambientes diferentes que existem por razões diferentes. A história, o clima, a geografia, tudo faz com que cada lugar seja como é e todos os pontos do planeta possuem características positivas e menos positivas. O paraíso não existe (ou talvez até exista, mas se for perfeito deve ser chato e portanto não será perfeito).
Mas abro mão desse princípio e faço uma comparação.
Recentemente tive a oportunidade de visitar três cidades que têm mais em comum do que o facto de nenhuma delas estar junto ao mar. Apesar de Praga, Minsk e São Paulo obviamente divergirem em muitos aspectos, particularmente no facto dos respectivos mercados da comunicação estarem em patamares de maturidade bastante distintos, pude constatar que no que diz respeito às marcas as três cidades mostram-se igualmente pouco evoluídas comparativamente ao mercado português.
Essa minha percepção é fruto do meu envolvimento com o que se realiza actualmente nessas paragens, onde desempenhei o papel de jurado nos festivais locais.
É certo que no festival do Art Directors Club da República Checa a participação na categoria de Design não era muito representativa, pois consta que a Associação de Design possui um evento para a especialidade onde participa um maior número de concorrentes.
Em Minsk a situação já é diferente. Ao avaliar os projetos de marca realizados na vasta categoria de Design dessa última ditadura da Europa senti que retrocedia 20 anos e só me lembrava dos Prémios Prisma nos idos dos anos 90. Em meio a um número de calendários em concurso como eu há muito não via, com acabamentos bastante requintados, as inscrições em Corporate Identity eram em quantidade e em qualidade muito fraquinhos. (Curiosamente ainda esta semana anunciaram uma nova marca para esta cidade, que pareceu-me decorative e não chega a reflectir o ambiente da cidade).
No caso do Brasil, o que eu pude constatar é que a matéria de branding ainda tem de ser amplamente difundida e implementada. Enquanto jurado da categoria de Identidade e Marcas da 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico organizada pela Associação Brasileira de Design, avaliei cerca de 200 trabalhos, dos quais menos de uma dezena mereceu uma pontuação decente. Havia até alguns logótipos interessantes, mas ficavam por isso mesmo, não eram declinados para a linguagem visual da marca, não se expressavam como tal. De resto uma visita a qualquer supermercado deixa-nos com a impressão de que ali há muito por fazer. Isso não é assim só porque sim, mas não vou me estender aqui.
Ok, a comparação é infantil e feita relativamente a mercados menos maduros em design, mas a realidade é que quando volto de Espanha, Itália ou França a sensação não é muito diferente.
Não há nada como viajar um pouco para darmos valor ao que temos aqui. Somos bons, pá!
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