A 5 de Agosto, o sonho de o Rio de Janeiro sediar os Jogos Olímpicos estará à distância de 365 dias, mas a cidade brasileira fica também mais perto do pesadelo de perder uma grande oportunidade para mudar: para se tornar mais eficiente, ecológica, que olha para as pessoas.
Em dois anos, o Brasil recebe os dois mais mediáticos eventos desportivos do mundo, Mundial de Futebol e Jogos Olímpicos. Mas se a herança do Mundial terá sido nula – alguns dos estádios tornaram-se imediatamente elefantes brancos – os Jogos Olímpicos são diferentes.
Receber os Jogos muda uma cidade. Pode mudar para melhor ou pior, mas muda-a. O Rio de Janeiro poderá seguir o exemplo de Pequim, que desbaratou €29 mil milhões pelos Jogos em 2008, ou Barcelona, que renasceu em 1992.
Na capital chinesa, a única herança dos Jogos foi a ampliação da rede de metropolitano. Os estádios estão há sete anos vazios e parte das infra-estruturas foram abandonadas – como em Atenas, na Grécia, quatro anos antes.
Em Barcelona, por sua vez, aconteceu o oposto. Antes de 1992, a cidade pouco tinha a ver com o que é hoje. Como explica o Business Insider, a praia não existia – veio substituir três quilómetros de edifícios industriais desactivados –, e a cidade aproveitou para construir novas estradas – mais 15% do que existiam em 1986; renovar os sistemas de esgotos e construir zonas verdes – há hoje mais 86% de zonas verdes que em 1986.
O investimento, a preços actuais, chegou aos €16,4 mil milhões, mas foi bem-vindo. O desemprego baixou de 127.774 em Novembro de 1986 para os 60.885 em Julho de 1992, sendo que as infra-estruturas criadas pelos Jogos trouxeram 20.000 empregos permanentes a Barcelona.
A competição serviu ainda para trazer turistas, milhões deles. E uma nova qualidade de vida aos cidadãos – porque é deles a cidade. Entre 1990 e 2001, Barcelona subiu do 11º para o 6º lugar no ranking das Melhores Cidades da Europa.
Outro dos benefícios dos Jogos de 92 está no desporto e é visível todos os dias: depois de 1992, a Espanha formou centenas de atletas de classe mundial em desportos como futebol, basquetebol, andebol, ciclismo, ténis, atletismo. Isto porque, nos anos anteriores à competição, o Governo e privados investiram milhões em infra-estruturas desportivas em todo o país: os resultados ainda estão à vista.
Para o Rio, a diferença entre Pequim e Barcelona ditará a herança dos seus próprios Jogos. Será o maior evento da história da cidade, mas não será no final da competição que saberemos se ela ou não bem-sucedida. A resposta virá dentro de dois, três, cinco ou dez anos. Conseguirá a cidade dar o salto?
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