De há uns anos para cá, irrito-me com os meus clientes que pedem para fazer campanhas mais comerciais e vejo-me obrigado a escrever sobre isto, quanto mais não seja para purgar este tipo de situações que insistem em repetir-se e que me incomodam cada vez mais.
Se por um lado percebo que estes tempos especialmente difíceis aumentem a ânsia pelos resultados, nunca vou conseguir entender que diminuam a inteligência, a educação e o bom senso de muita gente. Costumo dizer que a comunicação comercial é bastante interessante, para as pessoas que trabalham nos departamentos de vendas e de marketing da entidade que produz as mensagens e pouco ou nada relevante para o resto do mundo. Que raio me interessa que achem que o vosso produto é melhor e mais barato se eu não o conheço, não gosto, não preciso dele, não é oportuno ou pura e simplesmente não me diz nada?
De uma vez por todas, os responsáveis pelas marcas tem que entender uma coisa muito simples, já que se esforçam tanto para ter a minha atenção e de mais uns milhões de pessoas, o mínimo que podem fazer quando a tem é recompensarem-nos com qualquer coisa agradável e relevante, e não creio que isso seja o preço brutal, o facto de a coisa ser nova ou ter uma carrada de adjectivos enaltecedores, splashes e jingles cintilantes.
De há uns tempos para cá comecei a entender a arte como a criação de relevância onde nada existia. Essa relevância pode ser meramente estética ou ter uma plataforma mais conceptual. As marcas que não quiserem que os seus produtos virem commodity, tem de perceber que a sua comunicação tem de ser uma expressão artística da sua actividade, ou seja, tem de criar relevância onde ela não existe, e para isso tem de deixar de ser arrogantes, distantes, manipuladoras e armadas em divinas e porem os seus profissionais a ler menos estudos e a passar mais tempo a fazer o que as pessoas fazem, de preferência com as próprias pessoas.
O aproveitamento, ou a interrupção da nossa atenção tem de ser muito mais respeitado e, insisto, gritarem-me os preços, as promoções e afins, não me parece ser uma coisa respeitosa. Já que fizeram tanto para ter um bocadinho do meu tempo, mostrem-me qualquer coisa interessante ou não me interrompam.
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