Quebra-dogmas

24 de julho de 2014

Quebra-dogmas

João Geada, Quebra-dogmas e partner na Zémaria

Estou absolutamente convencido, que não existe nenhuma outra profissão no mundo, onde os clientes sejam tão opinativos e criativos nos seus comentários ao trabalho que encomendam. Também duvido que existam outros com tanta capacidade para transformar as suas opiniões em doutrinas, que se propagam com a facilidade do Herpes numa edição da Casa dos Segredos.

Como os que não estão de férias, para lá caminham, decidi não levar esta crónica demasiado a sério e comentar alegremente alguns destes ilustres dogmas da nossa industria. Ora vamos lá:

Isto não tem leitura

Tudo o que é possível de comentar como ‘não tendo leitura’ tem-na seguramente, o que pode não ter é interesse, ou seja ser tão desinteressante que nem com um ‘splash’ de 30 metros de diâmetro, em rosa shocking, a piscar e acompanhado do som de 3000 Vuvuzelas conseguirá fazer alguém prestar mais que uma fugaz e assustada atenção. E nem chega a ser atenção racional, é meramente instintiva e é esquecida no décimo de segundo seguinte. Como poderia dizer o tio do Edson, ‘Eu vejo autocarro vindo pra cima de mim, mas não compro um por isso’

O logo deve estar no canto inferior direito

Dizem que é por ser o ultimo lugar para onde olhamos numa página impressa, o que até faz sentido, se formos ocidentais, soubermos ler, não formos disléxicos e lermos da esquerda para a direita e de cima para baixo. O que ainda não consegui perceber, nem nunca vi nenhum estudo fidedigno sobre o assunto, é como é que isso pode ajudar a construir a sua marca. ‘São aqueles que põem o logótipo fora do sítio’ é capaz de ajudar mais. Como poderia dizer o tio do Edson ‘se não me interessa nem com o logo na testa.’

Ninguém lê textos longos

Podia remeter para o primeiro ponto e dizer que ninguém lê textos desinteressantes, mas a verdade é que até há quem leia os livros da Margarida Rebelo Pinto, por isso fica a dica, transformem a informação sobre os vossos produtos e serviços, em histórias giras e interessantes. Vão ver que assim, os clientes até lêem trilogias., ou como poderia dizer o tio do Edson, ‘No contexto certo até leio rótulo de champô’

Os meus consumidores não vão perceber isto

Os bons criativos costumam ser capazes de exercer uma coisa que se chama empatia, ou seja, facilmente se colocam na pele de todo o tipo de pessoas, identificam as suas idiossincrasias, o que as move e o que as poderia mover. Já alguns clientes, preferem ver as pessoas como números em gráficos, sem contextos pessoais, sem personalidades e interesses únicos, genéricas e generalizadas, ignorantes e tipificáveis. Como dizia o Sr. David Ogilvy, o consumidor é a sua mulher (ou marido) e cada um saberá o que tem em casa. A minha mulher, quando as coisas são relevantes para ela, percebe tanto de tudo que até chateia e nem fazem ideia a quantidade de coisas que ela considera interessantes. Como poderia dizer o tio do Edson ‘um ignorante é aquela pessoa que nunca vai saber que o é’ e esses não tomam decisões de compra.

Temos de fazer qualquer coisa no Facebook, as pessoas estão todas lá’

Não estão não. As pessoas estão nos seus trabalhos, nos ginásios, na praia, na cama umas com as outras, nos restaurantes ou até no sofá de casa e usam o Facebook para saber umas das outras, falar umas com as outras, contar histórias que fazem suas, umas às outras. Não digo que o Facebook não seja um óptimo sitio para as marcas fazerem coisas, mas garanto que mais um passatempo a pedir frases, fotografias ou outra banalidade qualquer em troca de bilhetes para o festival, ou mais um milhão de Likes na sua página, não faz nadinha pela sua marca e pelas suas vendas. Na minha opinião, as marcas devem estar no Facebook se forem capazes de ser relevantes para aquilo que as pessoas lá fazem ou a surpreender as pessoas que o estão a utilizar. Como diria o tio do Edson ‘Rede social é o café do bairro em esteróides’ e quem não sabe de pessoas não sabe de Facebook.

Para ganhar notoriedade só na televisão

Eu diria que para ganhar notoriedade só fazendo coisas notáveis. Não nego que a TV continua a ter uma ‘aura’ que confere importância às marcas que lá estão, mas isso, mais uma vez, depende do que lá fazem, quando lá fazem e para quem querem fazer. Se forem mais 30 segundos de banalidades no meio de mais um bloco interminável de banalidades, a notoriedade vai ser uma banalidade. Como poderia dizer o tio do Edson ‘A TV dá publicidade? É que no intervalo vou fazer xixi’

Os jovens não vêem televisão

Os jovens não têm por hábito ver os conteúdos banais que dão na televisão. Mas há conteúdos televisivos que gostam e outros que que são feitos de forma ‘líquida’ ou transmedia, para eles poderem vê-los nos interfaces que usam, quando e onde lhes apetece e quando calha até pode ser na TV. Como poderia dizer o tio do Edson ‘para jovem ver TV basta desligar o wifi’

Um outdoor não pode ter mais de 8 palavras

A menos que sejam tão interessantes que as pessoas até abrandem para o ler. Ou, claro, estejam em sítios onde passamos a pé ou onde paramos umas horas nas filas de trânsito. Como diria o tio do Edson ‘Para bom entendedor uma palavra basta. Para mau entendedor não há palavras que cheguem.’

Marketing Digital

Por oposição a marketing analógico? É processado em código binário? Sendo o Marketing o conhecimento e práticas destinadas a ter sucesso no mercado e considerando que o mercado usa a tecnologia e os canais digitais, não é lógico que o Marketing evolua nesse sentido? É necessário diferenciá-lo? Já houve outros saltos evolutivos e outros estão para vir,  e o Marketing vai continuar a ser a mesma coisa, sem ser preciso mudar-lhe o nome ou entendê-lo de outra forma. Como diria o tio do Edson ‘Um palhaço de fato e gravata não deixa de ser um palhaço’

O ano passado eles deram perucas rosas e tinham filas à porta do stand

Faça o seguinte exercício: Vá ao Zoo com um saco cheio de amendoins e dirija-se à jaula dos macacos. Se fizer questão imprima a sua logomarca nos amendoins. Depois distribua-os pelos macacos. Vai ser um sucesso, de tal forma que alguns até vão lutar pelas ofertas. Depois vá-se embora e espere que chegue outra pessoa com outro saco de amendoins e veja o que acontece. Pronto, perdeu o ‘top of mind’. O que fica da sua marca quando dá coisas giras ou entretêm as pessoas com coisas giras que não tem uma ligação perceptível com a história que a sua marca deve contar, tem precisamente o mesmo efeito. Como diria o tio do Edson ‘de borla até aceito vacina’.

Quero um video viral

Todos queremos ter um sucesso de propagação, mas eu diria que as probabilidades de o conseguir são semelhantes às de apanhar varíola em Toronto. Mas como gostamos de inventar respostas para tudo, eu diria que quem cumprir esta simples fórmula, tem viral garantido:

VIRAL=[(S+V+CF+CP)PP]xBS/I

em que 

S= SURPRESA

V=VERDADE

CF=COISAS FOFINHAS

CP=COISAS PARVAS

PP=PEER PRESSURE

BS=BUDGET SEEDING

I=IMPONDERÁVEIS

Brincadeiras à parte, há duas coisas que sei acerca dos virais, uma é que são muito mais prováveis se não forem assinados por marcas, o outro é que além de uma grande ideia tem de ter um grande esforço de disseminação. Como diria o tio do Edson ‘Viral para ser espontâneo tem de ter popozuda, com barba e sem logótipo’

Não percebo como é que isto me vai fazer aumentar as vendas

E eu não percebo como é possível por aviões a voar e por isso, nunca, mas nunca, vou questionar um engenheiro aeronáutico em relação às suas ideias. É que se ele fizer o avião como eu quero, vai ficar ao meu gosto, mas provavelmente não vai voar. Como poderia dizer o tio do Edson ‘só acredito vendo ou acreditando em quem viu’.

Aproveito para vos convidar a visitar a página do Facebook ‘Palavra do Cliente’ https://www.facebook.com/apalavradocliente. Não é minha mas é muito boa. E por falar em boa, boas férias e aproveitem para estudar os comportamentos dos nossos pares, para ver se passam a tratar os consumidores como um ser humano.

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