Profissionalmente, tenho fama de rezingão e admito publicamente que sou sim senhor, mas que creio ter um bom motivo para isso.
Sou fazedor de marcas há mais de 20 anos e para o bem e para o mal, tenho a irritante mania de me apaixonar por elas e pelo que faço para elas.
Enquanto o comum dos mortais olha para o logo da Nike e lhe vem à memória um belo fato de treino que viu em promoção na Sportzone, eu vejo o Just Do It, vejo todas as campanhas brilhantes que vão fazendo e tenho milhares de ideias para outras que gostava de fazer com eles.
Vejo o novo iPhone e enquanto as pessoas se atropelam em comentários ao novo sistema operativo eu ouço a voz do Richard Dreyfuss a dizer aquelas maravilhosas e inesquecíveis palavras ‘Because the people who are crazy enough to think they can change the world, are the ones who do’ e vislumbro mil e tal maneiras de fazer esta mensagem chegar e tocar tanto em toda a gente, como me toca a mim.
Amo a boa comunicação e amo o poder que as marcas tem de mudar as nossas vidas e trabalho com todo este amor sempre, pondo-o em tudo o que faço, em tudo o que crio e que vou propondo aos profissionais de Marketing que me encomendam ideias.
E é aqui meus senhores e minhas senhoras, que se começam a preparar os motivos para a minha rezinguisse.
Temo que para a maioria das pessoas que trabalham do lado de dentro das marcas, o profissionalismo, ou pelo menos a intenção de o ser, se sobrepõe de uma forma avassaladora à paixão.
Os números são coisas frias e estas pessoas, não porque querem mas porque lhes ensinaram, orientam o seu trabalho por KPI e balanços, acréscimos e decréscimos, quotas e ROI, números que tem de crescer, números que tem de se manter, números para cá e números para lá, e esta promiscuidade permanente com uma coisa fria vai aos poucos matando qualquer chamazinha de paixão que insista em existir.
Pessoas apaixonadas são mais parvas, menos sérias, mais fluidas e criativas. Procuram informação sobre o motivo do seu amor, querem saber tudo sobre ele e contaminar tudo e todos com ele.
Pessoas estritamente profissionais são rigorosas e criteriosas, rígidas e organizadas, são uma seca, são frias como os números que orientam as suas vidas e por isso olham para os produtos da paixão com desdém. Não o entendem, não se traduz racionalmente em resultados, não bate certo com os estudos e com os números e com as projecções desses números noutros números maiores, e porque não confiam em pessoas apaixonadas, chumbam tudo o que fuja do seu horizonte intelectual, que começa e acaba nestes relatórios extremamente objectivos, sem erros, impecáveis e de um profissionalismo inquestionável.
E aí, eu começo a rezingar.
Gostei muito de ler o seu artigo. Sou professora de marketing e revejo-me nas suas palavras. Concordo consigo plenamente
Obrigado Isabel. Foi escrito com paixão.
Muito bom. Gostei mesmo. Sou estudante de gestão, leio muito sobre marketing, o mais que posso e vou vendo por aqui os videos e realmente o que diz faz muito sentido. Pena que nem sempre possa ser posto em prática por motivos alheios a nós.