Alterar uma reputação é super fácil, desde que seja para pior. É como ir ali ao Bicaense, prá baixo todo Santo ajuda, prá cima a coisa toda muda.
“Fix It Again, Tony” é a alcunha da FIAT no mercado norte americano, onde nunca conseguiu se impor por considerarem a marca pouco fiável. Deriva de situações ocorridas com um modelo específico nos anos 70 e 80, quando até eu era ainda novo, e provavelmente ao dia de hoje isso não já não será verdade. Curiosamente, enquanto isso acontecia a norte, no sul passava-se exactamente o contrário. A mesma marca era um sucesso no Brasil, sendo eu mesmo um aficionado do meu modelo 147 que resistia às aventuras nas piores estradas que me faziam chegar aos melhores destinos. Mas seja como for, lá nos U.S.A. os carros italianos ainda hoje disfarçam-se de Chrysler.
Nas últimas semanas assistimos ao estalar de verniz naquela que já foi uma das marcas mais bem conduzidas do mundo. Não, não me refiro à igreja católica que também considero ser uma marca extremamente eficaz e que recentemente sofreu algumas mazelas na sua reputação devido a questões “menores”. Refiro-me antes à marca United States of America, vendida até então como bastião da liberdade e da democracia, num trabalho fantástico de propaganda ao nível global desde que o cinema foi inventado.
Desenganem-se se pareço anti-americano. Aprecio enormemente os Estados Unidos, passei lá anos marcantes da minha vida, e talvez por isso ressinta mais o recente abanão ao sonho americano com a revelação do programa de vigilância PRISM, que dá acesso à informação, telefonemas, emails e contactos de milhões de utilizadores das maiores empresas da área da tecnologia, num verdadeiro atentado à privacidade mundial em nome da segurança nacional.
Essa realidade orwelliana fere mais do que a imagem do governo Obama, descredibiliza a marca do país que se assume como o patamar mundial do respeito pela individualidade, ironicamente arrastando a sua reputação para perto da sua antiga e extinta rival, a União Soviética.
É como se de repente descobríssemos que as almôndegas que andávamos a comer não eram feitas com carne bovina, mas sim com carne de cavalo… hmm. Não, é pior. É como se de repente descobríssemos que a nossa querida mãezinha lê todos os nossos emails e partilha-os com as amigas, para se certificar de que não andamos em más companhias nem a fazer traquinices.
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