O luto e a permanência nas redes sociais de pessoas que morreram, sejam eles entes queridos, amigos, colegas de trabalho ou outros conhecidos levanta muitas questões, duvidas e desafios.
Quando perto de 3 biliões de pessoas utilizam de forma regular as redes sociais, comportamentos humanos, rituais e tradições começam a ser postas em causa de forma quase natural, dada a “invasão” das timelines nas nossas vidas.
Uma dessas realidades que necessita da nossa atenção e cuidado é o momento da morte, pois hoje cada um de nós tem um repositório de informação (textos, fotos, vídeos) online que necessita determinar que destino lhes pretende dar após a sua morte, quase como se de um testamento digital se tratasse.
Por um lado as redes sociais amplificam o momento, a divulgação, a partilha da dor, a comunhão de afetos e de expressões de pesar e luto, alargando as comunidades de familiares, amigos e conhecidos que no imediato conseguem, mesmo a distância, estar mais próximos de quem mais sofre nesses momentos.
Já noutra perspectiva, cria um problema, uma “herança inesperada” aos entes queridos que ficam sem saber como reagir, como gerir, como lidar com as páginas virtuais pertencentes à pessoa falecida.
Passados uns meses, e as vezes anos, ainda vemos muita gente a parabenizar pelo aniversario, ou por ganhos desportivos, ou simples saudações nas redes sociais a pessoas que sabemos terem falecido faz tempo. Como reagir, o que fazer?
Estas situações são tão mais embaraçosas ou problemáticas quão mais famoso ou figura publica é o falecido.
Em termos globais estima-se que diariamente morram cerca de 10 mil usuários de redes sociais.
Perante esta realidade, as principais plataformas (Facebook, LinkedIn, Instagram, Twitter) foram extremamente profissionais e “customer centric” e criaram a possibilidade de os familiares mais próximos poderem eliminar as páginas, com comprovação documental do óbito e da proximidade/familiaridade, ou, em alternativa, criar uma espécie de monumento, “memorial” digital do falecido. As regras e procedimentos são hoje claramente visíveis e simples em cada uma das redes.
Creio que este tema tão sensível, tão intimo, tão delicado ilustra bem como, mesmo em realidades de mudança acelerada os principais agentes económicos souberam adaptar, respeitar a ética, o respeito e as tradições de sociedade, complementando e acrescentando valor sempre que possível.
Como sempre, as épocas de transição como as que vivemos trarão casos bizarros, situações inéditas e permanente adaptação, mas acima de tudo o bom senso e os valores prevalecerão.
Assim sendo, além de decidirmos se queremos ser doadores de órgãos, se queremos ser cremados ou enterrados, se queremos muita ou pouca gente no funeral, se queremos música ou discursos, se queremos que convidem aquela parte da família com quem já não falamos, também termos que decidir o que queremos que aconteça as nossas páginas nas redes socais. É este o mundo em que vivemos…
“Don’t send me flowers when I’m dead. If you like me, send them while I’m alive.” – Brian Clough.
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