Mercados

31 de julho de 2013

Mercados

Mário Mandacaru, Creative Partner - A Equipa

Eu tenho uma atração confessa por mercados, não os financeiros que não percebo o suficiente para lhes dedicar um parágrafo, quanto mais um artigo; mas aqueles que comercializam os mais triviais produtos alimentares: verduras, frutas e legumes.

A cada lugar que visito procuro sempre conhecer o mercado local pois considero serem estes os últimos refúgios daquilo o que se pode chamar de genuína cultura regional. Os mercados têm o cheiro e as cores da terra onde estamos, mantidos apesar dessa terra não já não ser como era há anos atrás. Desvio-me das ruas e avenidas onde encontramos as marcas globais habituais, e procuro os mercados, onde estão os habitantes locais, a adquirir os ingredientes para os seus cozinhados habituais, os enchidos e os queijos típicos, as ervas e especiarias, a fruta da época às vezes produzida por quem as comercializa. Produtos genuínos e pessoas genuínas.

Do Mercat de la Boqueria em Barcelona não posso sair sem as butifarras blancas e os mini fuets, adquiridos sempre na mesma charcutaria. Em Budapeste cheguei a fazer uma visita guiada a dois mercados, ao Great Market Hall/Nagycsarnok e ao mais popular Lehel, e admito que não me lembro do nome das coisas que vi e provei. De Nice trouxe um estranho sal com baunilha e comi ouriços deliciosos na companhia de minha irmã. Do mercado de Aljezur guardo na memória as imagens dos peixes mais frescos que jamais vi, mas é na praça de Cascais, que costumo frequentar aos sábados pela manhã, que respiro sorridente os aromas que trago para casa na forma das frutas mais saborosas e dos legumes mais frescos, a maior parte do carrinho recheado na banca da Sandra, que me atende sempre com imensa simpatia.

Numa recente visita à sempre adorável cidade do Porto tive a oportunidade de visitar o intacto Mercado do Bolhão, mas foi numa mercearia próxima, na Pérola do Bolhão, que ouvi com atenção e espanto o descontentamento do senhor do balcão relativamente ao resultado das obras a que foi submetido outro mercado local, o do Bom Sucesso. O homem, na sua enorme simplicidade, apontou com notável tristeza e alguma indignação terem transformado aquele ícone do comércio popular em mais um centro comercial, semelhante a outros tantos. Achei interessante e legítimo o seu ponto de vista, em que valorizou a necessidade de mantermos as tradições do comércio e não cedermos à “modernização” e uniformização da oferta.

Curioso, fui mais tarde visitar o mercado em questão e não pude deixar de dar razão ao comerciante do Bolhão ao deparar-me com um espaço algo pretensioso e pouco acolhedor, “género” centro comercial mesmo. Não me oponho a que sejam restaurados e modernizados, mas a descaracterização dos mercados levam inevitavelmente à perda dos valores mais genuínos de um lugar, em nada colaborando para elevar e consubstanciar a marca desse lugar e do país.

Quando eu voltar ao Porto vou ao Bolhão.

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