Estamos em 2013, e o país já terá feito umas largas dezenas de eleições desde que a revolução de Abril nos colocou numa Democracia apelidada de Ocidental, através da qual a cada 2 anos sucede uma eleição; mas esta experiência não parece ter sido refectida em aprendizagem em alguns aspectos dos quais destacarei neste texto o da comunicação.
Logo à partida assiste-se a uma muito estrutral transformação – acabaram-se os cartazes de papel e com estes a célebre expressão “ainda não andavas e eu já colava cartazes”; se esteve com atenção à campanha eleitoral certamente reparou que todos os paineis são agora em tela em detrimento dos tipicos outdoors e cartazes em papel; hoje em dia uma campanha eleitoral já não é sinónimo de colagem de cartazes, quando há uns anos atrás as televisões chegavam a cobrir o momento em que os candidatos se lançavam pelas ruas das principais cidades em noites memoráveis de trincha de cola em riste à procura de paredes livres para o seu cartaz; é indiscutível a benfeitoria ambiental da troca dos cartazes de papel pelas telas, pois era comum a perpetuação desses nas paredes das cidades muito para além da data da eleição o que nos fez ver cartazes da APU por muitos e muitos anos…
Outra constatação que se retira desta eleição é que os candidatos são pessoas muito ocupadas e com agendas extremamente difíceis de conciliar. Digo isto porque foram muito raros os casos em que os cartazes das equipas em escrutínio não eram mais do que fotografias dos candidatos sobrepostos em trabalhos de photoshop de qualidade muito duvidosa… isto em simultâneo com as fotografias amadoras e com dimensões desproporcionadas dos ditos candidatos… não conseguiram arranjar uma hora para os juntar num sítio qualquer para se fotografarem em conjunto?!
As rábulas às campanhas de norte a sul do país sucederam-se nestas eleições a níveis nunca vistos tal foi a série de hilariantes a ridículas mensagens que se viram…não era difícil encontrar em cada autarquia o candidato que era “junto por…” ou aquele que unia “todos por…” ou mesmo os que levavam a autarquia “à frente” de qualquer coisa…
A leitura que faço sobre as causas que terão levado a este triste resultado é a descentralização e até desresponsabilização total das estruturas centrais partidárias sobre tudo o que as suas listas candidatas pretendiam fazer… cada lista foi, aparentemente, livre para escolher o slogan, o desenho, a cor da sua campanha e deste fenómeno não ficaram livres as campanhas ditas mais mediáticas do Porto e Lisboa… e o resultado está à vista.
Tal como já tinha sucedido com a proliferação das redes sociais, da recolha e publicação individual de fotos e vídeos nos meios digitais à sua disposição, transformando qualquer pessoa num potencial jornalista ou orgão de comunicação, também aqui qualquer pessoa passou a ser designer, fotógrafo e copy da sua própria campanha…
Longe vão os tempos em que as campanhas eleitorais especificamente, e as politicas na generalidade eram apogeus de comunicação e reflexo do design marcante da década em que decorriam – isto quer nos longínquos anos 30 nos EUA, ou mesmo na Europa e em Portugal em décadas mais recentes.
Há uns meses fui ver uma exposição que compilava cartazes de mobilização militar de muitos países e décadas e quase todos seriam obras de arte e símbolos políticos do respectivo tempo – não quero nem imaginar o que seria compilar numa exposição os cartazes que vimos até há semanas pela rua – uma autêntica anedota contínua de mau gosto e poses ridículas.
A este movimento não é alheio o estado de degradação a que as estruturas partidárias, os chamados “aparelhos”, chegaram; parece evidente que a ligação entre as sedes e o terreno se rompeu e o resultado está à vista.
Há mesmo coisas que têm que ser feitas por quem as faz bem e o nosso país está bem preenchido de óptimos, designers, “copys”, ilustradores, fotógrafos por isso, caros decisores políticos, façam o favor de tratar bem as nossas ruas e tratem de preparar as europeias de 2014 como deve ser…
Comentários (0)