FUN

2 de setembro de 2013

FUN

João Geada, King of Lalaland

Li recentemente um artigo do David Trott, no seu blog, que não só me deixou a pensar como me relembrou os gloriosos tempos da Proximity BBDO no inicio da década de 2000. O titulo é simplesmente ‘FUN’ e trata só e apenas da ausência de diversão a que a vida profissional, até nas agências de publicidade, está cada vez mais sujeita.

Mencionei a Proximity, porque quando em 1999 o Luis Segadães, o Manuel Maltez, o Pedro Bidarra e o grande Pablo Azugaray me convidaram para começar uma agência de Marketing Relacional em Portugal, estava longe de imaginar que os anos seguintes seriam os de mais trabalho e maior diversão que tive até agora.

A culpa foi de todos, mas principalmente do Pablo Alzugaray, um argentino com o Q.I de dois Enstein somados, agora responsável pelo projecto Shackleton, que nos ensinou que aquilo a que passámos a chamar o ‘índice de fun’, é um dos pilares para um negócio de sucesso. E na realidade,  se houve factor responsável pelo enorme sucesso das Proximity Ibéricas, que foram consequentemente as melhores do mundo durante o reinado do Pablo, foi essa mistura mágica de trabalho e diversão.

Tenho a teoria de que quanto mais primitivos são os povos, mais sistemas de crenças desenvolvem e estes sistemas inibem as vontades e as liberdades. Neles as pessoas vivem contrariadas e assustadas, sem confiança em si mesmas e nas comunidades em que se inserem, entregues às vontades dos que escolhem para liderar os seus fados. E meus amigos, de fados tristes percebemos nós, os portugueses, mesmo sem nunca ter tido grandes motivos para isso.

Praticamos esses sistemas há quase mil anos e por isso o nosso povo é particularmente assustado e sofre de um terror absoluto do erro e do ridículo. E agora que as coisas estão piores que nunca, a nossa imensa prudência foi-se transformando num simulacro de saber e o país encheu-se de especialistas, que sabem tanto, mas tanto e sobre tanta coisa, que nos tornámos todos em sumidades absolutas. E as sumidades são gente séria e a gente séria gosta de gravatas, mandamentos, estudos enviesados, powerpoints e excels e de  se convencerem a si mesmas que são os supra-sumos de qualquer coisa, todos chefes, todos geniais e todos muito contrariados com tudo e com todos os outros.

O mantra é cada vez mais ‘serviço é serviço, conhaque é conhaque’ e no meio disto continuamos esquecidos de que se nos divertirmos a trabalhar, fazemo-lo com a alma cheia e com gosto e isso nos transforma em pessoas mais bem dispostas e como qualquer especialista confirmará, as pessoas mais bem dispostas são mais criativas e mais produtivas.

Mas por aqui vamos continuando a perpetuar este sistema de tristes sabichões, que chegam à liderança das empresas por terem sido ‘Yes Men (ou Women)’, aborrecidos e desinteressantes durante todas as suas carreiras, que ostracizam insistentemente os poucos que vão tentando divertir-se com o que fazem.

Eu acho que a vida é divertida e que qualquer actividade que meta criatividade, e todas devem meter, tem mesmo de ser divertida. O espírito do criador é onde a obra vai buscar a sua matéria e se este espírito for chato, a obra também vai ser uma estopada. Parece-me que é o que continua a acontecer por cá, ainda mais agora que os brasileiros, povo divertido, se foram embora.

Deixo um conselho para os que concordam comigo mas ainda se deixam afectar pelo espírito seríssimo e cinzento que abunda neste lindo país: Não se levem demasiado a sério, divirtam-se enquanto estão a fazer as coisas, sejam elas quais forem, e não se preocupem demasiado com o resultado.

Deixem de se armar em sabichões e de esperar pelas avaliações e criticas dos vossos pares, amigos e chefes, que vão intelectualizar ou estupidificar tudo, transportando a coisa para a sua própria dimensão e imagem. Divirtam-se mal identificam problemas ou oportunidades, mal começam a ler o briefing, quando o discutem, quando só saem ideias parvas e quando tem ideias geniais. Escrevam, desenhem, programem, fabriquem como se estivessem a embebedar-se com o que fazem levem o conhaque para o trabalho (no sentido figurado, que bebedeiras a sério só são giras de vez em quando). Façam como o Kelly Slater,  para quem não sabe, o atleta mais consistente de todos os tempos, que se diverte a sério enquanto surfa cada onda e não apenas quando os juízes lhe dão as classificações.

Como diz uma amiga que admiro muito, o Fado só vai ser coisa séria e triste enquanto as pessoas forem sérias e tristes.

Always have fun.

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