A história escreve-se sempre com algum distanciamento. Estamos ainda no meio de toda uma convulsão que os políticos não souberam lidar em que o povo espanhol mostrou uma maior maturidade democrática apelando ao diálogo e à não-violência.
E para isso despojou-se de ideologias, bandeiras, hinos, sinais de identidade e branqueou-se num apelo massivo para que os políticos falem e se entendam. Contudo, os nacionalismos de Madrid e Barcelona continuam com posições extremadas.
Não haverá vencedores nesta disputa. Nem soluções perfeitas. Nestas questões sabemos sempre como entramos, mas não sabemos como saímos.
Um dos primeiros efeitos, foram as anunciadas saída das sedes de grandes grupos com origem catalã para outras localidades de Espanha. Uma outra, é o medo histórico do desmembramento de Espanha com cerca 40 % dos 7 milhões dos catalães a revindicarem a sua independência, sabendo que estes representam mais de 20% do PIB nacional. Quer a imagem de Espanha quer da Catalunha vão sair afetadas da crise dos acontecimentos da semana passada.
Nas marcas pouco importa a realidade, mas a perceção das coisas. E nesse campo, a comunicação dos dois lados tentou manipular os acontecimentos.
Ilegalidade! Violência! Falsidade! Repressão! Prisão! Independência! Unidade! Alternavam-se os argumentos dando uma imagem negativa quer de Espanha quer da Catalunha. Na essência, fiéis à forma como os nossos vizinhos ibéricos lidam com os seus valores identitários: emoção e paixão.
Mas o sentido de Estado acabou por vir do seu povo em toda a Espanha, exigindo aos políticos uma solução que não abra outras caixas de pandora em Espanha, com repercussões na Europa e eventuais desmembramentos noutras geografias. As marcas país espelham o que os diversos públicos-alvo pretendem.
Quem lá vive e o que deseja? Quem investe e o que pretende? Quem visita e o que procura? A intersecção destes eixos dá-nos o posicionamento da marca que somos e como queremos ser percebidos. E a questão é que Espanha já não é percebida como o era na semana passada por quem nela vive, investe ou visita. Já ninguém consegue voltar atrás nessa perceção. Mesmo que a realidade volte a ser o que era. Realidade é aquilo que é, não aquilo que devia ser. Espanha continua a ser um País de fortes convicções e contrastes.
Parafraseando uma canção do grupo catalão Jarabe de Palo: “En lo puro no hay futuro, la pureza está en la mezcla”.
Pedro Veloso, Diretor Geral WISEMIX
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