Esta é uma das frase mais recorrentes quando, em tempos de crise ou de contrariedades, se procura transmitir a mensagem de que há sempre boas e novas oportunidades de negócio mesmo quando tudo parece indicar em sentido contrário.
Creio que no contexto nacional temos casos muito recentes de áreas de atividade, aparentemente, sem interesse por se tratarem de negócios maduros, ou por serem negócios sem perspetivas de crescimento, que revelam surpreendentemente uma nova energia e um novo impulso concorrencial.
Vejamos então 3 casos:
“Serviço Tradicional de Correio”
Este título refere-se ao serviço clássico de envio de correspondência por correio, com distribuição ao domicílio de cartas ou encomendas. A evolução tecnológica e a proliferação esmagadora dos envios digitais, a par da existência dos CTT enquanto “operador clássico de correios” (recentemente privatizado mas beneficiando de uma larga história e implantação em Portugal), não parecia fazer existir espaço ou interesse económico para alguma empresa investir neste negócio maduro e com volumes em queda acentuada. Eis senão quando a operadora irlandesa de serviços postais CityPOST anuncia o investimento de dois milhões de euros e a contratação de 240 colaboradores em Portugal para se assumir como “alternativa ao serviço tradicional de correio”. Esta empresa, que se apresenta como “o maior operador privado irlandês de serviços postais”, adianta que os cerca de dois milhões de euros a investir “numa primeira fase” serão aplicados no “desenvolvimento de produtos e serviços inovadores, publicidade e infra-estruturas”. Ora para a CityPost o mercado Português de envios postais não só não está maduro como, aparentemente, revela oportunidades até aqui não exploradas até porque se designa como um “serviço postal inovador e com custos mais baixos”.
Banca
Num período em que a Banca a operar em Portugal atravessa uma crise sem precedentes com fusões, falências, aquisições, deslocalizações, recapitalizações, a marcarem o dia-a-dia das notícias, os CTT arrancam este mês com o Banco CTT, esperando-se para tal um investimento de 170 milhões de euros nos próximos 3 anos e com a promessa de que a instituição financeira vai ser “competitiva no mercado bancário”. Ou seja, enquanto uns recuam, contraem e desinvestem do negócio Bancário os CTT interpretam de forma diferente e avançam no sentido contrário.
Viagens Porto-Lisboa
A ligação entre as cidades do Porto e de Lisboa estavam focadas em 3 alternativas eficientes e que se mantinham cristalizadas há largos anos – a ligação viária pela Autoestrada A1, a ligação ferroviária da CP pela linha do Norte e a ligação aérea da TAP/Portugália. A entrada da Ryanair neste negócio, aparentemente, desinteressante, maduro e já “dominado” pelos meios existentes, veio abalar de forma significativa os operadores anteriores pelo facto de ter preços de acesso muito competitivos. A reação da TAP tardou mas chegou há poucos dias com o anúncio de 18 voos diários entre as duas cidades, para além de um conjunto de serviços complementares que reforçam a facilidade de reserva e embarque. A CP, também este mês, anunciou descontos acima dos 60% nas ligações Alfa Pendular e Intercidades de longo curso. Caso para dizer que se aguarda com expectativa pela reação da BRISA.
São apenas 3 casos mas dado estarem a acontecer em áreas de negócio tão pesadas em termos de investimento e infra-estruturas, são reveladoras que, de facto, em qualquer negócio não se pode, nem deve, assumir o status quo como imutável e sinónimo de falta de interesse ou competitividade por parte de outros. Três bons indicadores de que no nosso país, apesar dos choros, ainda há muitos a vender lenços com sucesso.
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