É o EURO, pá

11 de outubro de 2012

É o EURO, pá

António Mello, Publicitário

Iniciei o meu percurso profissional há 34 anos.
Acredito que sempre cumpri, com rigor e empenho, as funções que me foram confiadas.
Comecei como Estafeta e cheguei a Director-Geral.
E nunca subi no organigrama, de elevador ou escadas rolantes.
Sempre o fiz pelo meu pé, degrau a degrau.

Oportunidades tentadoras e esquemas estavam mesmo à minha frente, mas a minha educação e feitio não estavam para aí viradas.

Sempre paguei impostos e coimas, mais ou menos estúpidas.
Não devo nada a ninguém. Enfim, modéstia à parte, um cidadão exemplar.

E hoje, porque estou consciente que desde 25/4/74, fomos muito mal geridos e governados, talvez me custe menos entender, o momento algo assustador, no qual estamos todos a tentar sobreviver, e cujo desfecho se adivinhava.

Sem dúvida que Portugal é outro país. Entre outras coisas, está alcatroado de norte a sul, a Saúde melhorou e o nível educacional evoluiu claramente.

Mas não há bela sem senão.
Nas últimas décadas, assistimos a uma ânsia de ter tudo e mais alguma coisa pelo esforço ou custo mínimo e hoje temos um país armado em rico.
Puro e duro engano.

Graças à Europa, aos Políticos e à Banca, o “Sonho Material” dos portugueses, realizou-se para muita gente. Com mais ou menos golpe, com o suor ou não do seu trabalho, os portugueses em geral, subiram para um novo patamar de qualidade de vida, e rechearam as suas vidas com carros, casas, plasmas, etc, etc, etc, etc, etc…

O estado a que chegámos tem um responsável, com o mesmo nome.
E é um facto que os portugueses, sempre se habituaram a pedir e mendigar ao Estado.
E, erradamente também, a queixar-se do, e ao Estado.

A “classe política” instalada lá dentro do Estado é a grande responsável pelo estado a que chegámos, com o contributo duma Assembleia da República anedótica, recheada de deputados medianos.

E claro, os portugueses que, no geral, anestesiados pelo consumo e facilidades ao crédito iam empurrando com a barriga os problemas, convencidíssimos, de que haveria sempre dinheiro e Fundos europeus com fartura.
O nosso “Chico Espertismo” estava bem vivo…
Lembro-me de ouvir pessoas dizerem com orgulho e prazer redobrado que iam para a Função Pública. Iam para lá para lá ficarem. A deambular ou a passear nos corredores.
A má imagem da (dis)Função Pública que construíram tem muito de verdade. E hoje o resultado está à vista e vai doer.

O drama é que quase 40 anos de balbúrdia e vícios instalados, não se curam em 3 anos. Não é preciso ser um guru para perceber isso.

E o outro drama é que, paletes e paletes de austeridade por si só, vão-nos obrigar a fechar esse armazém que se chama Portugal.

Ser o bom aluno não chega.
Portugal não tem que ser o xoné de óculinhos da primeira fila. Ser “o melhor povo do mundo” também não chega. Se calhar alguma rebeldia dava jeito.

Conciliar austeridade e as reformas profundas com crescimento é vital.
Esse “blend” é feito com mestria por quem sabe, e se ainda conseguir motivar e chamar todos nós à participação em nome de Portugal, então estaremos no caminho certo. Mas esta tarefa não parece ser para quem está lá agora.
E o mais grave é que, não há grande alternativa.
É a nossa sina. Ficamo-nos sempre pelo mal menor.

Infelizmente esta Europa e as suas instituições Politicas e financeiras não dão muitas esperanças.
A Zona Euro, composta só por 17 Estados dos 27 da União Europeia, continua a ser a maior economia do mundo, mesmo sem o Reino Unido.
E a recessão que alastra nos países do Sul vai-se aprofundar e atingir outros estados. O rastilho pode e vai mudar de rumo.

A família europeia está muito longe de existir.
Os valores que definem a família como a conhecemos, não estão no dicionário desta Europa.
E se o Reino Unido não quer estar na Zona Euro, então corram com ele da Champions League, a liga Milionária.
Não é para rir. É para levar a sério.

Portugal ganhou muito com o Euro.
Mas também perdeu muito.
Portugal perdeu identidade e corre o risco de se tornar uma subMARCA ou uma Marca branca da Europa.
Portugal, mesmo com o seu 1% do PIB europeu, não se pode limitar a ser uma vareta do “Umbrella” EURO.
Já não posso ouvir a palavra EURO.

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Comentários (1)

  1. Gostei muito Sr Mello. Verdade que o Sr. Estado tem muitas culpas no cartorio, mas verdade tambem que os Srs. Tugas tem que mudar, crescer, quem sabe LUTAR, para que amanha nao se volta a repetir a mesma treta, para nao chamar M…

    por: Goncalo Barreto,

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