Recentemente surgiram na imprensa notícias sobre possíveis colaborações de empresas na área de entretenimento com as agências de informação norte-americana e britânica, nomeadamente da Rovio que terá disponibilizado big data sobre pelo menos um dos seus jogos da saga Angry Birds ou do Google Maps com informação muito sensível sobre localização.
A Rovio depressa veio desmentir os documentos confidenciais que foram disponibilizados à imprensa e que identificavam o projeto na NSA com o nome Golden Nugget mas com toda a polémica à volta da agência americana as dúvidas não foram dissipadas. As reações negativas não se fizeram esperar e rapidamente o site do Angry Birds foi vitima de um ataque de hackers protestando a fuga de dados. São noticias preocupantes na medida em que lançam fortes suspeitas sobre o sector e criam desconfiança junto dos utilizadores que seguramente vêem com mais cepticismo a utilização destas aplicações e ficam naturalmente apreensivos pela utilização indevida dos seus dados pessoais o que terá, necessariamente, repercussão nas iniciativas de marketing que hoje são trabalhadas à volta de big data e personalização.
Não fazendo juízos de valor sobre as intenções e objetivos destas agências de informação parece-me importante focar a discussão na forma como a Apple e o Google têm vindo a facilitar o acesso a informações de índole privada dos seus clientes aos developers dos seus marketplaces, quem sabe como justificação para as suas investidas internas nestas áreas, mas seguramente colocando os interesses e a defesa da privacidade dos seus clientes em segundo plano.
Um exemplo, entre muitos, que tem sido focado pela imprensa é o do acesso aos SMS permitido pelos marketplaces mediante autorização dos utilizadores e que poderá levar à leitura do conteúdo de todos os SMS pelo dono da aplicação. Não menosprezando o facto de todas as permissões terem que ser dadas pelo utilizador parece claro que a lista de permissões quando fazemos o download de uma nova app é cada vez mais extensa e questionável do ponto de vista do utilizador e tenho dificuldade em entender de que modo a permissão de acesso aos conteúdos de um SMS pode garantir o equilíbrio com o direito fundamental à privacidade. Infelizmente é uma área já com precedentes perigosos e dificilmente ultrapassáveis. Afinal de contas o Gmail foi lançado com pompa e circunstância fazendo gáudio da publicidade inteligente contextualizada pelo conteúdo das mensagens trocadas na plataforma e todos sabemos o sucesso que o serviço tem tido e a adoção do mesmo tipo de práticas por outras plataformas.
Do ponto de vista do marketing, e entendendo a dificuldade de conseguir o equilíbrio entre as necessidades de negócio e a privacidade, é fundamental garantir que a confiança dos utilizadores não se quebra, sob pena de todos os avanços conseguidos nos últimos anos nas áreas da personalização e contextualização do marketing e comunicação se perderem. Mas tal desiderato só pode ser alcançado com o envolvimento dos órgãos de soberania de cada país que deverão defender o direito à privacidade dos seus cidadãos e garantir o necessário equilíbrio com o desenvolvimento tecnológico e de negócio.
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