A política dos negócios

8 de fevereiro de 2017

A política dos negócios

Tiago Silva Lopes, Diretor de Internet e Serviços Móveis do Meo

O CEO da Uber, Travis Kalanick, viu-se recentemente envolvido em polémica depois de ter aceite o convite do Presidente Trump para fazer parte do seu grupo consultivo para a economia. Rapidamente surgiram críticas na internet que aumentaram de tom com a ordem executiva do Presidente sobre a imigração, que Travis tentou numa primeira fase rebater argumentando que fazer parte do grupo consultivo não significava concordar com todas as políticas do presidente. Mas um segundo evento fez escalar a contestação. Com uma greve de taxistas no serviço ao aeroporto de Nova Iorque em protesto contra a ordem executiva sobre a imigração, a Uber decidiu suspender o aumento de preços que acontece automaticamente quando a procura do serviço aumenta, o que foi interpretado como uma medida de apoio à política do Presidente Trump e colocou o CEO da Uber em maus lençóis. Com muita contestação interna (muitos dos que trabalham para a Uber são de alguma forma visados pela ordem executiva, e para um condutor mudar de empresa é tão simples como trocar de app no telemóvel) e uma campanha em social media com o sugestivo título de #DeleteUber, que terá sido responsável pela saída de 200,000 pessoas da aplicação, Travis teve que voltar atrás e recusar o convite de Donald Trump para tentar estancar o dano na empresa.

É muito interessante notar que uma empresa como a Uber que tantas vezes se tem socorrido do apoio das pessoas, essencialmente verbalizado através das redes sociais, para implementar a sua estratégia de entrada agressiva em mercados locais, defendendo que as leis em vigor não se aplicam ao seu modelo de negócio e escudando-se no alegado melhor serviço que prestam ao cliente para justificar a sua atuação, tenha sentido agora na pele o efeito contrário, provocado por uma ação pessoal e isolada do seu CEO.

É também uma chamada de atenção para as empresas, especialmente aquelas que têm um líder muito exposto, uma vez que não há uma divisão clara para os consumidores entre o Travis como pessoa e o Travis como CEO da Uber, e a contaminação negativa pode acontecer muito rapidamente. Naturalmente que existem muitos bons exemplos de líderes que “são” a empresa e moldam a imagem que os consumidores têm de forma positiva, como Richard Branson ou Elon Musk, que curiosamente aceitou o mesmo convite e conseguiu lidar muito melhor com a crítica que surgiu à sua participação.

Avalie este artigo 1 estrela2 estrelas3 estrelas4 estrelas5 estrelas
6 votos
Loading ... Loading ...
Por Tiago Silva Lopes

Comentários (0)

Escreva o seu nome e email ou faça login com o Facebook para comentar.