A ida ao médico

13 de setembro de 2012

A ida ao médico

João Geada, King of Lalaland

Há uns meses, quando fiz 45 anos, a família convenceu-me a fazer um check-up. Como reconheço que fiz e faço muita maldade ao meu corpinho, lá aceitei.

Comecei por fazer um pequeno estudo de mercado, ou benchmark, se preferirem, no qual sondei amigos e conhecidos com alguma experiência no assunto. Deste processo resultou uma long-list com 23 médicos de clínica geral, incluindo os nomes mais reputados do país, 2 senhores que praticam medicina alternativa mas foram altamente recomendados, um osteopata que parece que faz milagres, uma senhora que faz mezinhas e 3 curandeiros de diferentes tribos de etnias giríssimas.

Nas primeiras semanas marquei consulta com todos e visitei-os nos seus locais de trabalho para os conhecer e expor as inquietudes das gentes que me querem bem (sim, eles existem) em relação à minha saúde, bem como a minha própria opinião como pessoa que me atura o tempo todo. Com a excepção dos curandeiros e da senhora das mezinhas, todos me pediram para fazer exames parecidos e para voltar lá depois de ter os resultados dos ditos.

Uma vez que houveram algumas coisas que me incomodaram em algumas das visitas iniciais, como por exemplo uma cópia de Klimt de gosto duvidoso no gabinete do Dr. Pacheco, uma recepcionista muito antipática no consultório da Dra. Mercedes e a dificuldade para estacionar em três dos outros locais, acabei por reduzir a selecção a 22 profissionais. Apenas enviei os resultados dos exames aos nomes nesta short-list e marquei um dia e uma hora com cada um para escutar os seus diagnósticos e prescrições.

À excepção da senhora das mezinhas que insistia em ver-me de cuecas, todos tiveram diagnósticos competentes e embora as similaridades, todos muito consistentes e bem fundamentados. Não me agradou tanto alguma disparidade de custos, mas compreende-se porque alguns dos consultórios estavam muito bem situados e a renda deve ser puxadota.

Voltei a casa e conferenciei com a família. Parece que entretanto a minha mulher tinha uma enfermeira amiga que me podia fazer os tratamentos quase de borla, só teria de comprar os medicamentos sugeridos pelos vários médicos. Pareceu-me uma boa ideia e avancei com essa solução.

Passados uns meses, o insólito aconteceu.  No prazo de pouca semanas, recebi 28 cartas a reclamar que preciso de pagar as consultas.

Pagar consultas? Mas isto está tudo doido?

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