Ao longo das últimas semanas, temos assistido a uma maior dinâmica nos projectos de Diários Digitais, que foram anunciados nos meses anteriores.
Por um lado, o Grupo Impresa, com a versão digital diária do “Expresso” e com o lançamento previsto para dia 06 de Maio. Um projecto que nasce dentro do maior grupo de comunicação nacional, com mais de 40 anos de experiência neste sector. Por outro, o “Observador”, um projecto pensado de raiz com DNA digital, desenvolvido por um grupo de empresários nacionais com forte tradição de sucesso, mas ainda sem deadline definido. Ambos liderados por jornalistas de indiscutível qualidade profissional.
Os vários estudos que têm surgido, demonstram alterações profundas nos pilares fundamentais de projectos editoriais, o que coloca uma pressão acrescida sobre a sua gestão. Quando se trata de obter notícias e novidades, há muito que o online superou a rádio e os jornais ditos tradicionais. Cerca de 50% dos utilizadores de Internet recebem as notícias em primeira mão através das suas redes sociais, antes de estas surgirem através de qualquer fonte oficial. Os artigos de opinião seguem a mesma tendência, liderados agora pelos “online influencers” que podem, ou não, ser os mesmos que os tradicionais “opinion leaders”.
As expectativas são altas para qualquer um dos projectos, mas a corrida pela conquista da atenção dos consumidores / leitores no contexto digital já começou há muitos anos atrás, e não é uma batalha fácil. Conseguir o “share of attention” necessário por parte do leitor por forma a tornar estes projectos sustentáveis, quer em termos de audiências, quer em termos de investimentos publicitários, será decerto um dos maiores desafios que terão de enfrentar, quer se posicionem como produtores de conteúdos, agregadores de conteúdos, ou simplesmente disseminadores de conteúdos.
Estes novos projectos entram num mercado, por si, altamente competitivo, onde o jornal “Publico”- versão online – continua a ser líder de mercado e referência para muitos. Mas sendo este um ecossistema bastante complexo, e sendo o leitor crescentemente dinâmico, surgem outros elementos na batalha, como por exemplo o “Portal Sapo”, ou projectos mais recentes como o “Notícias ao Minuto”, todos eles projectos com lógicas editoriais distintas, mas que se debatem pelo mesmo, pela atenção por parte do leitor.
Na minha opinião, só aqueles que conseguirem dominar os quatro pilares do online publishing se manterão na corrida:
- Garantir o “engagement” da sua audiência – as comunidades de interesse são o principal pilar de captação de atenção num mundo cada vez mais digital. Os consumidores ligam-se e acompanham os publishers que percepcionam como mais relevantes, interessantes e inspiradores. O domínio das novas funcionalidades sociais das plataformas de media irá permitir aumentar os vínculos entre o produtor dos conteúdos e esses leitores.
- Navegar num novo mundo “multiscreen” – a fragmentação dos media trás consigo um desafio ainda maior, que passa pela adaptação do conteúdo a uma experiência de utilização cada vez mais multiscreen (PC, Tablet, Mobile). Segundo um estudo recente da Google, 90% das nossas interacções com media são “screen based” pelo que a consulta e interacção com conteúdos de uma forma simples, atractiva e user friendly vão ser cruciais para o sucesso.
- Alavancar o poder da imagem – num mundo cada vez mais digital, o “visual storytelling” adquire especial relevância, na medida em que permite uma melhor compreensão por parte do leitor, e reforça o engagement com os seus targets. No entanto, o processo de produção de conteúdos que utilizam um mix de formatos de media (texto, imagens, infográficos, realidade aumentada, vídeos e diagramas) constitui uma alteração profunda face à prática tradicional.
- Criar novas formas de monetização – as funcionalidades disponíveis nestes formatos diários digitais, permitem uma diversidade enorme de novas formas de Monetização. Encontrar novas fontes de receita não será uma dificuldade, o desafio está em fazer com que os anunciantes acompanhem este processo de Darwinismo Digital, que os obriga a desenvolver com os meios uma relação de cooperação mais profunda, e não apenas de mera negociação de espaço publicitário.
Já sabemos que as vantagens competitivas actuais são cada vez mais efémeras, quer pela rapidez de partilha de informação, quer pela transparência que estes mercados aportam. Sabemos também que estamos todos a navegar em novos contextos, para os quais não existe uma fórmula de sucesso totalmente provada, e todos estão à procura do modelo de negócio ideal. Por estas razões, neste novo contexto, a velocidade é um factor fundamental para o sucesso. A melhor coisa a fazer… é andar depressa, experimentar, testar, concretizar, avaliar e voltar a andar… muito depressa!
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