Onde é que eu déjá-vi isto?

12 de março de 2012

Onde é que eu déjá-vi isto?

Mário Mandacaru, Brand Design/Brandia Central e Presidente do Clube de Criativos Portugueses

Apesar de já parecer verão, daqui a nada é primavera outra vez. Entra ano, sai ano o ciclo continua. Às vezes com mais chuva, outras com mais sol como agora, mas é expectável que as estações se sucedam, que as folhas caiam e voltem a nascer e o melro volte a fazer o seu ninho algures no jardim. Mal ou bem, ele lá terá as suas referências para o fazer.

As referências, mais do que meramente necessárias para a nossa vida, são mesmo vitais. Regemo-nos por padrões, a nossa alfabetização é feita a partir do reconhecimento de signos básicos que quando arranjados passam a ter um significado e nos permitem comunicar e perpetuar o conhecimento, a cultura.

A criatividade baseia-se igualmente em referências, subvertendo a conjugação de códigos para gerar algo inesperado ou no mínimo original.  Entretanto o percurso que fazemos durante o desenvolvimento de uma ideia pode em certos casos não nos levar a resultados tão inusitados quanto desejaríamos. A similaridade de raciocínio pode fazer com que as coincidências aconteçam.

Além dos cabelos brancos e das rugas que finjo acreditar serem só de expressão, a idade implica termos tido o contacto com inúmeras fontes de informação, sejam visuais, sonoras ou até olfativas. Baudelaire afirmava que “quase toda a nossa originalidade é resultado do cunho que  o tempo imprime sobre a nossa sensibilidade.”Quanto mais vivemos mais chances temos de nos deparar com algo que já tenhamos visto. Eu que já passei por duas modas de calças boca-de-sino (confesso que na primeira delas até as usava) garanto que os Kings of  Convenience têm muito de Crosby, Stills, Nash & Young, cujo disco de maior sucesso chamava-se justamente ‘Déjà vu’.

A reação à esse re-conhecimento de alguma peça, seja ela artística ou de comunicação, pode variar do enfadonho “bah! eu já vi esta cena muitas vezes” ao entusiasmado “uau! adoro essa nova versão” dependendo do grau de inovação aplicado.

Já referi que a moda é cíclica, assim como eram os períodos artísticos, e a inovação nada mais é do que um remix bem feito. Sendo mal feito é uma mera repetição que não interessa nem ao menino Jesus. Mesmo considerando que a maxima “nada se cria, tudo se copia” é um grande exagero, não podemos negar que possui um fundo de verdade. O problema é quando se exagera na “inspiração” e o resultado torna-se uma cópia. É que além da Xerox e da Beyoncé pouca gente consegue fazer sucesso com cópias. Os chineses copiam, ok, mas não reclamam autoria.

No mundo da comunicação o bicho-papão dos criativos é o ‘déjà-vi’, é aquele comentário “já vi esta cena em Cannes há uns anos”. E quem diz Cannes diz no You Tube, na Creative Review ou no Jornal do Bairro. É verdade que nem todos esses comentários são feitos da maneira mais construtiva, e alguns até nem são justos, mas nem por isso deixam de correr na ‘boca do povo’.

O tema do 14º Festival do Clube de Criativos é justamente o déjà vu, não apenas numa referência ao retorno do evento ao concelho de Cascais, onde decorreu o 1º Festival, mas indo mais além extrapola essa dimensão memorial geográfica para tocar no sempre discutível universo da originalidade. No fim de Maio vamos comemorar e premiar mais um ano da criatividade nacional.

Enquanto isso o melro fará o seu ninho.

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Comentários (2)

  1. MUAHMUAHMUAH!Cada bolo legal, sc3b3 sendo muito criativo mesmo, e saber coainhzr nc3a9. :pMas o que eu adorei mesmo aquele de casamento onde a noiva mata o marido!

    por: Ple,
  2. sr. linka ,Muito obrigado por maetnr no ar esse blog!!(1 ano, parabens!!)acesso quase que diariamente!!tem sido muito util para min que sou vestibulando..fae7o download de suas revistas e livros sempre q posso!espero que possa contar com vc por muitos anos!!!vlw!

    por: Nur,

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