Novo Consumidor: A Queda de um Anjo

27 de abril de 2012

Novo Consumidor: A Queda de um Anjo

Miguel Rangel Gestor de marcas

Não tenho qualquer dúvida que, como em muitas outras áreas, também estão em curso reformas ao nível do comportamento de compra dos consumidores Portugueses. A atual e desafiante conjuntura leva a um enfraquecimento de rotinas, a uma reinvenção das políticas de rendimentos das famílias e a consequência de tudo isto é uma profunda alteração dos comportamentos de compra dos consumidores.

A história das economias ocidentais já viveu várias crises nos últimos dois séculos. Ao longo do século XIX, liberalismo, capitalismo e industrialização caminharam lado a lado, favorecendo-se mutuamente, e contribuíram para o crescimento económico, como o mundo ocidental nunca antes havia conhecido. Contudo, esse crescimento, que provocou a abundância dos produtos, que fez baixar os preços e melhorou substancialmente as condições da vida material, ocorreu de forma instável, provocando crises económicas inteiramente “novas”, apelidadas pelos estudiosos como crises de crescimento ou de superprodução. Estas manifestaram-se de modo cíclico e tiveram tão amplas repercussões que desestabilizaram a vida social e até a política, levando os governos a reverem as suas posições face à economia e, nalguns casos, a alterarem os regimes económicos vigentes.

O século XX começou com feridas difíceis de curar provenientes do século anterior. No início do século havia uma forte concorrência comercial entre os países europeus, principalmente na disputa pelos mercados consumidores, pois o fervor da produção em larga escala estava ao rúbro e a crise dos anos 30 aconteceu. Esta concorrência gerou vários conflitos de interesses entre as nações. O mundo viveu duas guerras mundiais na primeira metade do século, ambas com alterações políticas e económicas muito fortes nas economias mundiais.

Para Portugal a grande transformação económica deu-se com a entrada na CEE em 1985 e a abertura à Europa, consequência de uma mudança de regime ocorrida 10 anos antes e fez com que os líderes políticos nacionais procurassem formas de, rapidamente, nos aproximarmos dos congéneres europeus.
 
E foi tudo tão rápido para os Portugueses, tanto a ascensão como a queda, a queda de um anjo.

Em 1998, pouco mais de 10 anos desde a entrada na CEE, Portugal atingiu o auge da sua afirmação mundial de modernidade e desenvolvimento com a EXPO 98 a ser o símbolo dessa conquista. O deslumbramento fez-nos voar, qual ícaro a caminho do sol, no entanto tal como ícaro também as nossas asas se queimaram com a ambição de ir para além das nossas possibilidades e caímos…estamos ainda algures a recompor-nos, ainda à procura da referência que nos faça estabilizar e depois crescer.

Esta será a dificuldade maior com que os consumidores nacionais se debatem e por isso querem ajuda, querem orientação, querem compreensão. As marcas e os gestores destas jogam por isso um importante papel e creio que procuram, elas próprias, encontrar o seu ramo seguro onde se agarrarem nesta mudança que sofrem. É tudo muito rápido. As alterações nas vidas estão a ocorrer a ritmos assustadores.

Há dias lia que “…Quanto maior é a dificuldade em saber ler a realidade, que anda muito depressa, é instável, contraditória e até ameaçadora, mais as pessoas sentem necessidade de valorizar o que está próximo, onde encontram as suas verdades para tomar as decisões do dia-a-dia e sentirem-se equilibrada…”.

Para um Marketeer, onde pára esta velocidade? Hoje o consumidor compra menos automaticamente e com mais sentido, mais racionalmente, pondera melhor as suas escolhas e mais do que tudo já não compra porque não quer, mas antes porque não pode.

Na comunicação um conjunto de paradoxos aparece:
O consumidor está ao mesmo tempo mais sensível à atividade promocional mas ao mesmo tempo reage menos à mesma e compra menos; as marcas diminuíram o seu esforço comunicacional porque a contração orçamental a isso o obriga, no entanto nunca como agora a taxa de conversão de potenciais clientes em compradores foi tão baixa, o que significa que o número de contatos desperdiçados pelas campanhas de media é enorme.
O dilema dos Gestores é simples de expor mas a solução para o resolver é a “one million dollar question” – Até quanto se pode baixar o nível de comunicação? Até quando comunicar ainda tem efeito, e a partir de quanto deixa de fazer o impacto em vendas que justifique a sua existência? Um exemplo concreto no vestuário…Estarão os consumidores que usam as suas roupas mais uma estação, e que por isso adiam compras, a necessitar de comunicação de novas coleções sazonais? Justifica-se que as marcas invistam tanto em inovação, criação, mudança para um consumidor que procura estabilidade, equilíbrio e contenção?
Nada será como dantes; é mesmo um novo consumidor, com um novo paradigma que se apresenta, mas estou em crer que, como sempre nas reformas e nas mudanças, há um sem número de oportunidades a aproveitar…não serão é certamente potenciadas através dos métodos tradicionais de atração e quem primeiro os encontrar vai ser o primeiro a vencer.

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