Numa altura em que se discute a importância do direito de autor, infelizmente com soluções parvas e caducas como a norte americana SOPA, a europeia ACTA e o projecto lei dos socialistas portugueses de taxar os suportes de gravação (imagine-se!!!!!), parece-me ser oportuno falar no valor da originalidade e no que é para mim a verdadeira pirataria, que é praticada diariamente, impunemente e sem polémicas.
Quanto mais velho vou ficando, mais firme fica a minha opinião que a originalidade é das coisas mais preciosas que existem neste mundo. O que a SPA (Sociedade portuguesa de Autores), legisladores, alguns criadores e quase todas as subespécies que vivem do talento alheio ainda não perceberam é que aquilo a que chamam cópia ‘pirata’ não o é por variadíssimos motivos. O principal é que estes actos não são uma ‘subtracção’ mas sim uma ‘adição’. Confusos? Passo a explicar, antes de haver a web e a partilha ‘livre’ destes conteúdos, os criadores vendiam, nos melhores dos casos, uns largos milhares de cópias, e as suas audiências eram bastante limitadas. Hoje, com a ‘pirataria’ as audiências cresceram exponencialmente, em alguns casos até aos muitos milhões, e como quem realmente gosta compra na mesma, não só as vendas continuam nos mesmos patamares, como em alguns casos até podem subir pelo efeito de divulgação que a ‘pirataria’ provoca. Portanto os volumes de vendas não são menores e os autores até saem em vantagem, o que é menor é o lucro imaginário que existiria se todas as cópias fossem taxadas. Por outro lado, a disseminação livre de conteúdos, é uma evolução incontornável do mundo, pelo que em vez de inventarem esquemas que procuram o retrocesso, podiam usar as suas energias no desenvolvimento de novas ideias para aumentar o enorme potencial que existe quando sabemos que temos vastas audiências interessadas no que criamos.
Arrumado este assunto, vamos então ao que considero a verdadeira pirataria, que é a praticada diariamente por profissionais do mercado da originalidade, ou seja, criadores, marketeiros e publicitários, que ou não dão o devido valor à originalidade ou cederam ao facto de custar muito menos copiar que criar.
Vou deixar a parte dos outros criadores para quem perceba mais do assunto para me focar na praticada pelos meus colegas. Em primeiro lugar temos os marketeiros, também conhecidos no nosso meio como clientes, habituados que estão ao marketing ‘tu tens eu também tenho, tu fazes eu também faço’, agora ainda mais impulsionados pelas dificuldades financeiras destes tempos de mudança, perderam completamente a vergonha e em alguns casos até já pedem declaradamente às suas agências para replicarem as ideias e formatos que a concorrência, ou outras marcas com personalidades semelhantes desenvolveram. Isto sim senhoras e senhores é pirataria descarada.
Por outro lado, temos algumas agências de publicidade, que encontraram também uma solução caduca para resolver a falta de dinheiro e falta de talento dos últimos tempos, que passa por explorar jovens inexperientes, ansiosos por entrar no mercado de trabalho, que aceitam fazer estágios atrás de estágios, sem remuneração ou por uns trocos que mal dão para os transportes. A verdade é que, a mal ou a bem, saem algumas ideias boas e frescas destas cabecinhas verdes, que depois são abusivamente aproveitadas para enaltecer o falso brio destas agências ‘criativas’, que na prática nem sequer têm capacidade própria para sustentar o seu estatuto. Isto sim é pirataria, e neste caso é pirataria com escravatura à mistura.
A originalidade custa dinheiro, dá trabalho e exige talento, mas sem ela o mundo não tinha Matisses, iPhones, aviões, hamburgueres e transplantes de orgãos. Façam-me o favor de não ceder às tentações deste período mais difícil e usem a criatividade para resolver os problemas e aproveitar as oportunidades, sem cair na tentação de serem verdadeiros piratas e de usar as mesmas linhas de raciocínio que nos levaram a este estado das coisas.
Como disse alguém que agora não me recordo, ‘insanidade é repetir os mesmos actos esperando obter resultados diferentes’. Pensem diferente e não sejam piratas que o big brother anda atento.
“Gosto… Na vela quando em regata cabe ao barco perseguidor fazer algo de diferente… na tentativa de com isso ganhar algo ao perseguido… se fizer o mesmo nunca o vai apanhar… Pelo contrário o que vai à frente tenta não errar e escolher o melhor caminho.. para que quem vem atrás nunca o apanhe… Acho que se aplicarmos ao mktg.. este conceito (confesso que não sou um especialista) fazer igual não acrescenta grande valor… apenas mantém a distancia para o concorrente que vai a frente… só criar.. arriscar… tentar o pode fazer chegar lá… a cópia.. a não ser que eu seja maior (com mais dinheiro… meios.. recursos) e ganhe pela exaustão… nunca é uma boa hipótese… ”