De norte a sul do país, as vinhas moldam paisagens, que nesta altura do ano, dão o fruto da época para gerar os melhores vinhos com marca nacional. A beleza natural, o trabalho nas vinhas, a produção do vinho ou o património são aposta forte das empresas, que abrem portas aos turistas para dar a conhecer todo o processo de produção do vinho. Os turistas têm a oportunidade de vindimar, visitar adegas e caves ou provar vinhos.
O enoturismo integra o setor “Gastronomia e Vinhos” considerado, pelo Turismo de Portugal, um dos 10 produtos estratégicos para o desenvolvimento turístico do país. Contactado pelo site do Imagens de Marca, o INE – Instituto Nacional de Estatística – adianta que não existem dados estatísticos específicos do turismo ligado ao vinho.
Já na Europa, o setor “Gastronomia e Vinhos” gera, anualmente, cerca de 600 mil viagens internacionais, o que representa 0, 25% do total de viagens de lazer realizadas pelos turistas europeus. A França e a Holanda estão no topo das preferências dos enoturistas, que são sobretudo homens, entre 35 e 60 anos, com elevado poder de compra e elevado nível sociocultural. São conclusões de um estudo realizado, este ano, por THR (Asesores en Turismo Hotelería Y Recreacíon) para o Turismo de Portugal.
O mesmo estudo adianta que, atualmente em Portugal, estão reconhecidas 31 Denominações de Origem e 10 Indicações Geográficas; 11 Rotas de Vinhos e 15 Museus do Vinho, sendo que, na sua maioria, têm um espólio “pouco interessante, pouco adaptados à atividade turística, e sem o devido rigor e profissionalismo das práticas museológicas e das técnicas museográficas”.
No mundo existem 4 milhões de enoturistas “praticantes” e 2 milhões “ocasionais”. Os números foram divulgados, este ano, na maior feira de vinhos do planeta, a “Vinitaly”, que se realiza em Verona, Itália.
Por cá, o Turismo de Portugal disponibiliza na internet um guia técnico com informação sobre 59 unidades de enoturismo.
No que a valores do turismo, em geral, diz respeito, o Turismo de Portugal, avança que o número de hóspedes (nacionais e estrangeiros), gerou, de janeiro a julho deste ano, 7 755 milhões de euros, menos 1,5% em relação ao período homólogo.
Com o enoturismo ainda a representar uma pequena fatia em Portugal, o site do Imagens de Marca foi saber, junto do consultor de estratégia e de negócio na Brand Builders, Paulo Moura de Mesquita, o que falta para que o enoturismo seja uma alavanca de crescimento da procura turística nacional.
Imagens de Marca (IM) – O país deve afirmar-se mais como produtor de vinhos?
Paulo Moura de Mesquita (PMM) - Pode capitalizar a mais-valia como reconhecido produtor de vinhos do “velho mundo”. E fazer dela, como já fez de resto por vezes, um ad-on da sua oferta global e uma forma de reforçar o seu posicionamento e arquétipo de marca turística. Estrategicamente, houve opções de estruturação, organização e alargamento da base de oferta turística nacional. O PENT – Plano Estratégico Nacional do Turismo – ilustra-o bem. E, o Enoturismo é um dos eixos de crescimento potencial da oferta.
IM – Considera que o Enoturismo potencia a procura turística nacional?
PMM – Tenho dúvidas se Portugal terá uma imagem e marca como produtor de vinhos, que seja suficientemente forte para funcionar como alavanca de crescimento da procura turística. Portugal é um dos principais destinos turísticos do mundo e não tem o mesmo sucesso enquanto produtor de vinhos. A visita a qualquer “wine-shop” por esse mundo fora demonstra-o…
IM – Deve ser a produção de vinho a potenciar o turismo ou vice-versa?
PMM - Na atual circunstancia em que o país se encontra, devemos recorrer “a tudo” para concretizar o nosso potencial. Desde que feito com cabeça e assegurando que umas iniciativas não irão anular outras…
Objetivando um pouco, talvez não haja, propriamente, uma ordem ou priorização standard, dependendo antes da própria região. Se não, vejamos dois exemplos distintos: Porto & Douro e Lisboa.
O Douro é a mais antiga região demarcada do mundo, e “o Porto” um dos vinhos licorosos mais conhecidos e conceituados do mundo civilizado. A influência britânica – um dos principais emissores turísticos mundiais – está historicamente marcada no marketing e comercialização do vinho do Porto. Paralelamente, as encostas das vinhas do douro são uma integração muito feliz entre a natureza e a obra humana.
Neste caso, parece-nos fazer todo o sentido capitalizar nesse ativo (vinícola e vitivinícola), para “alavancar” o potencial turístico da região. E assim tem sido feito, com inegável sucesso. Tanto para a cidade do Porto, que vive um dos seus melhores “momentos” turísticos, como para o Douro Vinhateiro, que tem conseguido uma notável ascensão no reconhecimento internacional dos seus vinhos (atente-se, entre outras, nas excelentes iniciativas dos Douro Boys), bem como da sua impar oferta turística, em que os percursos de barco são apenas um exemplo…
IM – E Lisboa..
PMM – Lisboa é amplamente reconhecida pela sua capacidade de atrair turistas e visitantes e que é, inegavelmente, um dos principais destinos europeus. Atualmente, é visitada por 5.000.000 turistas /ano que aqui procuram e valorizam entre outras atividades, passear, fazer compras, gastronomia, animação noturna, … A região oferece também vinhos de ótima qualidade, mas que até agora não têm sido reconhecidos com a merecida justiça. A criação da região dos vinhos Lisboa, pode ser o primeiro passo para essa alavancagem no sentido inverso ao anterior… A integração de ambos parece-nos não só possível, como reciprocamente interessante.
Penso que, com estes dois exemplos, fica claro que não há uma ordem, mas pode haver claramente sinergias que devem ser concretizadas, desde que uma não degrade a outra!
IM – Na sua opinião, qual a melhor estratégia para o Enoturismo se afirmar nos programas turísticos nacionais?
PMM – Muito está a ser feito, mas há ainda muito por fazer, principalmente ao nível do intangível. Tentando “ilustrar” um pouco, diria que o Hardware existe e é de excelência: o vinho, a vinha, a gastronomia, a paisagem, a hospitalidade, as atividades complementares, … Do que, porventura, pode precisar é de um booster. A projeção internacional, a visibilidade, a promoção. A organização da oferta num todo que faça do recurso um inequívoco produto turístico a par de uma promoção suficiente para o colocar “no radar”. Um desafio acrescido que importa considerar, é que tanto o negócio da produção de vinho como do “turismo do vinho” em Portugal, são muito fragmentados. Mas, se queremos assegurar a, fundamental, genuinidade da oferta, essa fragmentação terá de manter-se, com as suas idiossincrasias!
IM – O Enoturismo tem pouca expressão em Portugal…
PMM - Ao olharmos para o Enoturismo à escala nacional, talvez possamos ficar com uma imagem um pouco desfocada, e daí possa resultar a perceção de que o mesmo tenha pouca expressão em Portugal. Penso que se fizermos um “zoom-in” conseguimos respostas um pouco mais objetivas.
IM – Por exemplo…
PMM - Os EUA não têm expressão no capítulo do Enoturismo! A Califórnia tem alguma expressão, mas “diluída” entre muitos outros assets. Nada tem uma grande expressão.
Algumas regiões de Portugal têm expressão no “turismo do vinho”. E o facto resulta do seu passado de sucesso na oferta vitivinícola, outras estão a afirmar-se nessa oferta e como tal a construir o potencial enoturístico, porque também começam a reunir as outras valências turísticas.
IM – Quais as regiões nacionais que apostam mais neste tipo de turismo?
PMM - Dentre as regiões com reconhecimento internacional, temos a Madeira e o Porto. A Madeira, além do seu extraordinário vinho, tem uma oferta turística que já no passado a colocavam como um dos mais interessantes e exclusivos destinos turísticos do mundo. Em meados do século passado, a “spring island” era o destino de ricos e famosos a que poucas regiões no mundo poderiam aspirar.
O Porto /Douro, está a ter uma expansão muito interessante, na qual devemos destacar a capacidade de atrair turistas muito diferenciados – com uma receita por turista superior à média nacional – e de países que não são os nossos tradicionais mercados. Na minha opinião, devemos olhar para o seu desenvolvimento com muita atenção, pois pode ser uma importante janela de oportunidades…
Muito provavelmente, outras regiões podem aspirar ao mesmo sucesso. Com estratégias e ativos tangíveis diferentes, mas igualmente valiosos.
O artigo refere pontos essenciais. A ideia de que somos um produtor de referência naão corresponde à percepção dos mercados. De facto, para além do vinho do Porto, pouco ou nada é conhecido.
No entanto, quer a originalidade e diversidade das castas, quer toda a cultura ancestral ligada ao setor podem diferenciar-nos positivamente se bem conjugada com outros produtos (gastronomia, touring, etc.). Para tal é preciso mudar a visão relativamente ao produto, em vez de o ver simplesmente como uma bebida, torna-se fundamental ter a capacidade de oferecer uma experiência complementar e de excelência, com informação cuidada, confortável e acessível.
Tema e ideia apropriada. Em época de pessimismo é bom saber não desperdicar estas oportunidades ou potenciais que temos e que podem gerar mais receita externa. Apenas com o que já temos de bom no País.
Claro que para isso será essencial, com efectivo apoio do Estado Português, promover Internacionalmente o Vinho e o Enoturismo Português. Pois na realidade no Estranjeiro quase não se conhece.
Relembro que à volta do Enoturismo existem também tratamentos de saude e bem estar, apreciados por algumas pessoas e que tem tido algum incremento em França.
É ainda uma actividade pouco sazonal adequada para o desenvolvimento do interior mais carenciado de actividades.
Á decadas que Portugal tem falta de um Projecto para se tentar destacar e ter maior fonte de receita, então porque não apostar mais no Turismo, Vitivinicultura e Enoturismo?