Faço hoje 45 anos e dou por mim preocupado. Preocupam-me os temas que preocupam os portugueses.
Preocupa-me muito que milhares de pessoas percam a cabeça por descontos de 50% num supermercado, mas preocupa-me muito mais a polémica que o assunto provocou nas nossas elites intelectuais.
Preocupa-me que os programas de TV continuem a ser os ‘castings de humilhação pública’ que infectam todos os canais nacionais.
Preocupa-me que um sistema arcaico de medição de audiências de TV, seja substituído por outro um bocadinho menos arcaico e que o facto de os resultados serem mais próximos da realidade, e por isso piores, seja tema de discussão e de ruptura, mas sempre no sentido inverso ao do progresso.
Preocupa-me que o primeiro ministro diga que o despedimento não tem de ser um estigma e que pode e deve ser encarado como uma nova oportunidade para melhorar a vida, seja entendido como um insulto à dignidade humana e que durante dias não se fale, noutra coisa.
Preocupa-me que o futebol continue a ter o protagonismo que tem e que o lado desportivo da coisa se tenha perdido nos tempos e tenha dado lugar a um grande espectáculo de gladiação entre treinadores e dirigentes, pessoas com o nível cultural de uma lula, mas que conseguem a atenção e o apreço de milhões de pessoas.
Preocupa-me que vídeos de gatinhos a fazer coisas que os gatos fazem, sejam virais garantidos.
Preocupa-me que num país sem dinheiro e com pessoas sem dinheiro, cada modelo novo de ipad ou de iphone seja um sucesso de vendas garantido.
Preocupa-me que já esteja toda a gente obcecada com o número de festivais de verão que vão conseguir ir.
Preocupa-me que continuemos a rodopiar a tentar apanhar os nossos próprios rabos.
Preocupa-me que os responsáveis pelas marcas se preocupem com estas coisas e não se esforcem para quebrar os ciclos e para elevar o nível cultural geral.
Preocupa-me continuar preocupado com tudo isto.
“Tudo em nós procura.
Nós jogamos às escondidas.
O que em mim procura prefere não encontrar.
Se procuro, desencontro-me.
Preocupa-me o preocupar-me.
Culpado de estar ocupado.
É fugindo que nos encontramos”
Manuel Vieira
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