TV, uma escolha de idosos e pobres?

9 de outubro de 2015

TV, uma escolha de idosos e pobres?

Miguel Caeiro, fundador The Street Brasil

A migração dos espectadores para meios com menos publicidade, a escolha por uma segmentação maior de conteúdos, maior exigência de qualidade e relevância dos assuntos abordados, flexibilidade de local e hora, entre outros factores, está a criar enormes desafios para as empresas de televisão.

Os dados mais recentes publicados nos EUA pela Nielsen no seu relatório “THE TOTAL AUDIENCE REPORT”, bem como as várias consequentes análises efectuadas sobre esses dados, vem evidenciando algumas tendências marcantes, que deverão estar na agenda de todos os executivos do mercado de televisão, um pouco por todo o mundo.

# Audiência de canais abertos, quer em daytime quer em primetime tem uma média etária substancialmente superior à da população (57 para 37 nos EUA);

# O número de horas diários gastos com TV revela um decréscimo substancial nos últimos anos para a população inferior a 49 anos, com destaque para os Millenials;

# Quanto maior o rendimento das famílias, menos o número de horas à frente da TV;

Sabemos ainda que não é justa a comparação direta de audiências ou consumos de vídeo entre a TV e os meios digitais, pois as metodologias de aferição são muito diferentes, permitindo aos meios digitais “reclamar” um crescimento de audiência muito superior ao real, na medida em que na Televisão são medidos os vários minutos de audiência de um determinado programa, enquanto que na internet basta visualizar 3 segundos de um vídeo para já ser contada a visualização, entre outros detalhes que tornam as comparações diretas difíceis e inconclusivas.

Além das análises quantitativas que evidenciam estas tendências, existe todo uma observação empírica de uma sociedade em mutação rápida que nos permite observar algumas tendências. Estas tendências serão tão mais marcantes dependendo da geografia em que vivemos, dos grupos com que partilhamos o quotidiano e do sector em que trabalhamos.

# Basta olhar atentamente os jovens para entender que o papel da TV generalista na vida deles se alterou significativamente e se subalternizou face às alternativas digitais, face às escolhas de cable TV que permite uma segmentação cuidada, face a um mundo mais interativo, mais segmentado, menos poluído por publicidade;

# Facilmente constatamos nos diversos círculos de amigos e colegas de trabalho que a tendência de não ver canais generalistas aumenta a cada dia;

# De igual modo, é facilmente observável e dificilmente mensurável a forte tendência do second screen, ou seja, da utilização simultânea do smartphone ou tablet enquanto temos a TV ligada em qualquer conteúdo ao qual prestamos atenção num ritmo cada vez mais irregular;

# O consumo de vídeo pela Internet, mesmo descontando as diferentes métricas, está a crescer a um ritmo avassalador, no mesmo ritmo em que o consumo de dados substitui a voz naqueles aparelhos que um dia já serviram para fazermos chamadas de voz;

As grandes questões que se colocam para o futuro próximo prendem-se com factores ligados a tecnologia, a mudança de hábitos e ao grau de adaptação das industrias de conteúdos, publicidade e marketing.

Que avanços de tecnologia poderão dar nova vida ao consumo televisivo, ou irão aproximá-lo cada vez mais de um consumo digital, mais interativo, mais segmentado, mais personalizado?

Que novos hábitos de mobilidade, de everything everywhere, de internet of things e de velocidade de acesso à informação vão sedimentar e obrigar a alterações?

Que nova forma de produzir conteúdos, que novas técnicas de interagir com as pessoas, quais as segmentações que vão ser mais relevantes além do desporto, da informação, da ficção, como o jornalismo se vai adaptar a ter como concorrente cada cidadão munido de um smartphone que tudo regista e tudo veicula?

Que novas formas de comunicação comercial as agências de publicidade vão encontrar para continuar a seduzir milhões de consumidores ao serviço do marketing das marcas? Em que meios? Sob que forma? Medidos sob que critérios? Como vai ser a nova publicidade?

E por ultimo, mas talvez a questão mais relevante, quando vai chegar esse futuro?  A que velocidade e com que impacto estas alterações vão surgir e se solidificar?

A chegada das plataformas como o Netflix, a transformação das Telcos e a oferta de Video on demand, a universalidade dos conteúdos mais atrativos e a força da música serão, na minha opinião, alguns dos drivers de aceleramento destas mudanças.

E vocês, já viram a novela de hoje?

Television!  Teacher, mother, secret lover. “

Homer Simpson, The Simpsons

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