Trabalhar longas horas? Ridículo.

11 de janeiro de 2018

Trabalhar longas horas? Ridículo.

Miguel Caeiro, Co-Founder e CEO do SKORR

Continuamos, em 2018, a trabalhar mal, e a valorizar longas horas no escritório, prejudicando de forma irrecuperável o resto da nossa vida, família, amigos, saúde, cultura.

Ao sair do seu open space as 18:15, Teresa (nome fictício) é interpelada pela sua chefe, num tom jocoso, “então, hoje não se trabalha à tarde?”.

Infelizmente esta caricatura está demasiado próxima da realidade para não ser levada a sério.

Existe uma cultura em Portugal de prolongar de forma totalmente irracional as horas a que se sai do escritório, numa competição surda pelo prémio do mais trabalhador, do mais dedicado, dando visibilidade a esse esforço, quer através de eternos lamentos, quer por emails enviados fora de horas comprovando a sua “dedicação”.

É muito comum, e alguns até bem conhecidos na praça, os chefes darem o pior dos exemplos, muitas vezes começando os seus dias pelas 11:00, usufruindo de almoços de pelo menos duas horas, e depois, obviamente “obrigam” as suas tropas a ficar até as 21:30 ou 22:00 no escritório para satisfazer as suas necessidades de interação, reuniões e trabalho.

Basta mudarmos de geografia na Europa, nos Estados Unidos ou mesmo na vasta maioria de outros países, para encontrarmos pessoas e sociedades que tem uma vida depois do trabalho. SIM !!!! É verdade, é possível, essa é a regra, em Portugal pratica-se a exceção !!!!!

Obviamente nem preciso de referir que não existe a mínima correlação entre as horas trabalhadas e a produtividade, bem pelo contrario.

Durante muitos anos, confessamente contagiado por esta “doença”, praticando horários absolutamente ridículos superiores a 12 horas diárias, fui chamado a atenção por um chefe (obviamente estrangeiro) que me disse que se eu não conseguia entregar o mesmo que os demais no horário padrão, que teria que rever a minha avaliação. Remédio santo, lição aprendida e missão de vida desde então.

Existe toda uma vida que se consegue usufruir quando respeitamos, fazemos respeitar e mostramos que deve ser respeitado os horários normais de trabalho. Existe tempo de enorme qualidade para a família e amigos, existe tempo para exercício físico, existe tempo para a cultura e entretenimento, existe tempo para pequenas tarefas domesticas, enfim, existe tempo para viver.

Claro que, como sempre, não existe bela sem senão, obviamente que o horário de entrada pela manha não poderá ser “pelas 9:30, arredondado pelas eternas desculpas do transito, da chuva e do metro que estava cheio… Claro que, salvo exceções de trabalho justificadas, não existe mais do que tempo para um almoço rápido e funcional. Claro que se respeitarmos os horários, formos pontuais e exigirmos que sejam pontuais connosco, se entregarmos e cumprirmos com as nossas obrigações, conseguiremos ter a autoridade moral para exigir isso e muito mais. Acabou o viver de desculpas esfarrapadas para não entregar o tal relatório, para não terminar aquela apresentação, para não estar preparado para aquela reunião, enfim, para cumprir com aquilo para que, afinal de contas, foi contratado.

O mundo do trabalho esta a mudar de forma incrivelmente rápida para modelos de part-time, home-office, co-working e outras tendências, para os quais os hábitos pré-históricos enraizados nas ultimas décadas vão dificultar muito e tornar-nos muito menos competitivos perante os nossos páreas internacionais.

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Portugal aparece no TOP 10 mundial dos Países que trabalham mais horas, claramente um ranking em que não gostaríamos de estar.

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Toda a sociedade se organiza para esta “desorganização”, os horários do comercio, dos serviços, das escolas, tudo se adapta a esta esquizofrenia.

Em São Paulo, onde moro desde 2011, as escolas iniciam sempre entre as 7:00 e as 7:15, existem supermercados abertos 24h, é muito comum começar a trabalhar antes das 8:00, almoçar rápido e a partir das 17:00 os escritórios começam a esvaziar. Esta realidade ainda é mais forte se vamos para os Estados Unidos ou norte da Europa.

Existem vários sectores da economia que podem sair muito beneficiados com o cumprimento dos horários de trabalho, e desde logo, no aumento de horas para a vida e prioridades pessoais. Desde logo a componente de exercício físico (ginásios, personal trainers, empresas de material e equipamento de desporto), entretenimento e cultura (cinemas, teatros, cursos e workshops, grupos amadores de varias atividades lúdicas e culturais) e obviamente, impossível de mensurar mas extremamente valioso, o tempo para a nossa família e amigos.

Para quando esta mudança de mentalidades, de cultura, de falsos moralismos, de hipocrisia e de ilusionismos da produtividade?

george eastman

Miguel Caeiro, Co-Founder e CEO do SKORR

 

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Por Miguel Caeiro

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