Tina Brown, jornalismo e jornalistas

18 de setembro de 2013

Tina Brown, jornalismo e jornalistas

José Manuel Costa, presidente da GCI

Numa altura em que o congresso norte-americano discute o que é jornalismo e quem é jornalista, na sequência do escândalo Wikileaks – cuja actividade sempre foi vista como algo entre o jornalismo e a espionagem – uma das personalidades mais icónicas desta área, Tina Brown, anunciou a sua saída do Daily Beast, em Janeiro de 2014.

Segundo os diversos media que cobriram o tema, Brown não saiu de livre vontade. Ela foi informada de que o seu contrato não seria renovado, uma raridade na carreira da britânica, há 30 anos nos Estados Unidos.

Como diz o Financial Times, a saída de Brown do Daily Beast é a prova do “encolhimento” do jornalismo tradicional. “Nestes tempos difíceis, é mais complicado para os directores brilhantes, caprichosos, gastadores e old-school serem bem-sucedidos”, explica o FT – o jornal britânico saberá do que fala por experiência própria.

A saída da ex-directora da Vanity Fair e The New Yorker, vista como perfeccionista pelos leitores e colegas de trabalho, é o retrato da indústria dos media tradicional. Na mesma medida, o futuro de Brown, que irá liderar uma unidade de negócio de conferências e debates, poderá revelar um pouco do futuro do jornalismo. Ou dos jornalistas da velha guarda, melhor dizendo.

Na nova casa – Tina Brown Live Media –, a jornalista utilizará toda a influência dos últimos 30 anos para proveito próprio: ela vai escolher os melhores entrevistados, os rostos das capas mais vendidas, os conversadores mais interessantes. Serão debates rápidos – 45 minutos, no máximo –, com destaque para o comentário de notícias de última hora, temas para os quais os leitores não têm muito tempo, mas querem saber mais do que os habituais flashes informativos.

A jornalista defende que existe um grande potencial neste negócio – “se não fosse um bom negócio não estaria nele” – e que o público valoriza a interacção social e estar numa audiência durante debates ao vivo. Uma espécie de festival de Verão para discussões inteligentes e sérias.

A saída de Tina Brown do Daily Beast é também a prova – já conhecida anteriormente – que o jornalismo digital não pode seguir o rasto do jornalismo dito tradicional. “O Beast não dava cachas, era demasiado revista e não gerava muito conteúdo. E não era muito orientado para o digital como negócio”, explicou uma fonte próxima de Brown ao The Guardian.

Tina Brown foi mais uma vítima da rápida mudança do jornalismo na última década. Uma mudança que afecta todas as indústrias associadas, como a do PR, e que permanecerá implacável com todos os players. Até que eles percebam, claro, que o modus operandi mudou para sempre.

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