Esta semana ao ter que escrever, de forma manuscrita vários documentos, apercebi-me de que já não o fazia há muitos meses, pelo menos algo mais elaborado do que a simples assinatura. Assim, e perante o susto de realidade, fui recuperar um artigo meu de 2014 que versava exatamente sobre este assunto.
Lembra-se da ultima vez que escreveu mais do que 5 linhas à mão?
Uma carta, uns apontamentos, um postal, além da lista de compras? Pois é, eu também não…
Desde as primeiras marcas em argila, aproximadamente 5.000 anos atrás, até às obras primas da literatura, passando pelos romances de cordel aos bastidores do jornalismo, habituámo-nos que tudo começava nos bancos da escola, onde a aprendizagem focava-se na caligrafia, na gramática e preparava-nos para a vida.
A memória era perpetuada por manuscritos, depois por livros e hoje por arquivos digitais. A importância da escrita decresce enquanto falamos, sendo substituída por meios digitais mais robustos, rápidos, duradouros, seguros e versáteis.
E eis que chegamos ao mundo dos notebooks, notepads, tablets, smartphones e quando nos apercebemos a carga da caneta chega a secar de falta de uso.
Em 2011, nos EUA, iniciou-se o processo de desobrigar as escolas de ensinar a escrita cursiva e de forma explicita recomendou-se um foco maior na digitação em teclados de computador. Segundo vários especialistas, ter destreza no computador tornou-se um bem infinitamente mais valioso do que ter uma letra bonita.
Estudos a favor da escrita manual defendem que a escrita do punho provoca uma atividade cerebral mais intensa do que a digitação, na região dedicada ao processamento de informações da memória (córtex pré-frontal) com ligação direta na criatividade e capacidade de expressão.
O sistema de ensino tradicional baseia-se na escrita e na leitura manual, onde um processo evolutivo e gradual consolida os conhecimentos.
Em contraponto, e levando em consideração o contexto da sociedade atual, a utilização cada vez mais frequente das técnicas digitais revela-se capaz de despertar mais interesse em aprender, de comunicar e ter acesso a diferentes realidades e culturas de forma rápida, precisa através da Internet. As técnicas e características da edição de texto (copiar, colar, corretor, substituir, …) deixam mais tempo para a qualidade, conteúdo e interesse real sobre os assuntos.
Não pretendo defender nenhuma postura radical, mas apenas constatar a realidade que assistimos passivamente no dia a dia. Os meus filhos trazem a lição de casa fotografada pelo smartphone e trocam whatsapp com os colegas para tirar dúvidas, enviam os trabalhos para o email do professor e sabem as notas do teste pelo site da escola mal chegam a casa. Procuram conteúdos, fazem pesquisas e ensaiam testes passados no bando de dados disponibilizado pela escola. Escrevem muito? Não. Estão melhor preparados do que nós estávamos na mesma época? Sem dúvida.
A escrita manual ficará sempre como uma arte, e talvez reservada para momentos e mensagens especiais, mas acredito sinceramente que está condenada a desaparecer do sistema de ensino à mesma velocidade que está a desaparecer das nossas vidas quotidianas.
“Afinal, se coisas boas se vão é para que coisas melhores possam vir. Esqueça o passado, desapego é o segredo!”
Fernando Pessoa
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