Quando o digital altera as relações entre o consumidor e as marcas

29 de junho de 2015

Quando o digital altera as relações entre o consumidor e as marcas

Rogério Canhoto, Professor Convidado dos Mestrados Executivos do ISCTE e da Universidade Católica

Smart Drinking

Adegga

A história repete-se! Sempre que uma tecnologia inovadora é amplamente disseminada, os modelos de negócio tradicionais são reformulados, novas oportunidades surgem, e novos players obrigam as companhias instaladas a repensar o que andam a fazer.

Se olharmos para a indústria do entretenimento verificamos que, em poucos anos, a Apple tornou-se no principal player no endosso e comercialização de música. Se olharmos para a indústria do turismo e hotelaria, verificamos que, em poucos anos, o Booking.com passou a ser o player de referência. Esta história repete-se em vários sectores que, durante anos, digamos que viviam num equilíbrio relativamente estável, apesar dos elevados níveis competitivos.

Alguns dos mais cépticos, ainda hoje afirmam que os seus sectores não se encontram tão expostos a este contexto digital, e que não serão tão impactados pelos novos “ventos de mudança”. Curiosamente, essa era a afirmação de muitos dos que estavam confortavelmente instalados à frente das grandes produtoras de música, ou das grandes cadeias hoteleiras, há uns anos atrás.

Duas grandes lições podemos extrair quando analisamos estes casos. A primeira, é que o novo player não tem a sua origem no sector de actividade, vem de fora e com outras competências. A segunda, é que trás consigo um novo modelo de negócio que aqueles que estavam na indústria, ou não tiveram o discernimento para tal ou, se o tiveram, não souberam como implementar, sem “canibalizar” o seu sustento actual.

São vários os sectores que atravessam actualmente este processo. Vejamos, a título de exemplo, o sector dos vinhos e das bebidas espirituosas. Um sector de grande tradição, onde o know-how de experiência feito é a fonte de credibilidade das marcas, e a qualidade do seu produto o principal factor diferenciador.

No entanto, novos players ocupam espaço neste território onde o digital tem grande margem de evolução. Vejamos o caso da empresa NAKED WINES, fundada em 2008, que adoptou um modelo de Crowdsourcing / Crowdfunding para dinamizar um ecossistema de pequenos produtores, que produzem vinhos de excelência, na sua maioria desconhecidos do público em geral e que, desta forma, garantem uma dinâmica de endosso e de consumo que levou 300.000 subscritores, a financiar mais de 130 produtores independentes em 14 países. Os resultados de negócio são interessantes. Mais de 25.000 garrafas vendidas por dia, e mais de 9MUSD de facturação mensal (2014).

wine

Devemos também olhar para o caso do “Adegga”, um projecto português, fundado em 2006, liderado pelo André Ribeirinho. Para quem não conhece, há 10 anos atrás o André não estava no sector, mas percebeu que, aliando o seu conhecimento do digital, ao que é uma experiência ideal de consumo no sector dos vinhos, poderia criar um modelo de negócio diferenciador e altamente escalável. Hoje é um dos 20 indivíduos mais influentes neste sector, na vertente digital.

Na sua essência, o “Adegga” coloca os apreciadores e os pequenos produtores de vinho numa plataforma única, que permite a quem gosta de vinho descobrir confortavelmente novos vinhos e adquiri-los directamente ao produtor. Este projecto faz um mix inovador entre a informação do produtor e do seu produto, a dinamização de tastings inovadores e o endosso de novos vinhos junto da comunidade de interesse. Um fenómeno de desintermediação dos canais típicos, ao mesmo tempo que faz a infomediação experiencial, muito útil para quem consome e para quem vende.

Dois bons exemplos de como as oportunidades estão mesmo ali ao “virar da esquina”, para quem percebe de que forma o ecossistema digital pode revolucionar o sector de actividade.

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