Este passado Domingo realizaram-se eleições autárquicas para eleição do poder municipal em Portugal. De uma forma intencional, deliberada e clara os Portugueses decidiram, na sua esmagadora maioria, ignorar os partidos políticos e os políticos em geral. Os números de abstenção, nulos e brancos somados ultrapassaram os 54,22%.
Atrevo-me a dizer que a família Medina tem maior capacidade de sedução de multidões, ainda para mais com bilhete pago, ao reunir no ultimo Rock in Rio quase 700 mil pessoas, quase tantas como as que votaram no Partido atualmente no Governo no ultimo domingo em Portugal.
Também no Brasil a indignação com a classe política tem sido ruidosamente assinalada nas ruas, uma vez que o voto sendo obrigatório inibe as outras formas de manifestação mais comuns. A disputa para as Presidenciais do próximo ano já apaixona os comentaristas e disputa as páginas da mídia ao mesmo tempo que convive com os movimentos de cidadãos que na rua procuram mostrar a sua insatisfação com “mais do mesmo modelo”. Não se discutem partidos ou nomes, mas sim o modelo vigente e a falta de identificação da população com ele.
Se olharmos para outros países, assistimos a fenómenos idênticos de descontentamento e de evidente falta de adesão à classe política.
Mais ainda, nota-se uma ausência total de líderes carismáticos, políticos inatos, que nascem e morrem para a causa pública, que marcaram o destino das nações no século XIX e XX. Qualquer um de nós consegue nomear uma dúzia desses líderes “gigantes”. Mas perguntem nas ruas de qualquer Capital Europeia o nome dos seus atuais líderes políticos e rapidamente compreenderão do que falo, dificilmente encontrarão uma resposta certa. Mais, a generalidade dos atuais líderes não ganharam o governo por mérito próprio mas normalmente por demérito dos seus antecessores.
“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Abraham Lincoln
Se olharem os resultados de uma pesquisa efectuada pela GFK em que foi avaliada a credibilidade de 20 categorias profissionais, a conquista do último lugar pela classe política não deixa de chocar e surpreender.
A pesquisa de 2010 foi realizada de 1 a 29 de março, com 18,8 mil pessoas, sendo mil brasileiras. Em 2009, foram 17,2 mil entrevistados (mil brasileiros). Participaram das pesquisas de 2009 e de 2010 Brasil, EUA, Itália, França, Espanha, Índia, Suécia, Colômbia, Portugal, Bélgica, Reino Unido, Alemanha, Polônia, Romênia, Bulgária, República Tcheca e Hungria. Em 2009 também participaram Grécia, Rússia e Suíça. Em 2010, entraram Holanda e Turquia.
Independente de qualquer leitura partidária, de esquerda, centro ou direita, liberal, socialista ou mesmo revolucionária, o facto comum que passa fronteiras e as redes sociais tornam num grito ensurdecedor é a falta de credibilidade da classe política atual, o descontentamento com a forma de governar, e acima de tudo com a forma como os partidos manipulam o acesso ao poder e perderam a adesão às pessoas.
A titulo de exemplo veja-se o apoio expressivo aos candidatos independentes das eleições do último Domingo.
Será por exemplo o Marketing a ultima salvação da classe política? Não o Marketing Politico de Campanhas e de Eleições como o conhecemos, mas o Marketing na sua essência de formulação ou re-formulação de produtos, na arte de sedução de consumidores para produtos ou serviços criando fidelidade e “consumo” regular. Marketing que se utiliza para gerir crises, para novos lançamentos, para re-lançamentos, para cruzar gerações, que seduz e foi re-inventado pela geração Y, que dita tendências e move multidões, que diz o que está In e Out, e que por fim apaixona tantos profissionais brilhantes em todo o mundo.
Deveremos encarar a crise dos políticos como os equivalentes de Marketing à Kodak, Nokia, Sega, Xerox, Saab, Philips, entre tantas outras marcas que tiveram a sua época de ouro mas que ao não saberem se reinventar a tempo perderam a sua vez ???
Ou será que os Políticos vão mudar totalmente a forma como encaram a sua passagem por posições de poder e “profissionalizar” a forma de gerir a causa pública?
Acredito que uma das vantagens inequívocas das redes sociais, da internet e deste mundo global de comunicação é permitir a ampla discussão e partilha de ideias e mesmo de “test markets” que no fundo ditarão a forma como nos organizaremos em sociedade nas próximas décadas. A forma mais ou menos turbulenta como vamos lá chegar depende da zona do globo em que cada um se encontrar e do grau de atraso relativo do ponto de partida em cada local, mas seguramente o resultado final será bem parecido.
Como já dizia W Churchill, a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.
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