- Cheguei à Finlândia
- A sorte dá muito trabalho nunca se aplicou tanto como no brasil
- O brasil não tem tantas palmeiras e caipirinhas como se pensa…
Ao fim de trabalhar muitos anos com o Brasil, mas não no Brasil, tinha a errónea percepção que conhecia o País, seus hábitos, costumes e forma de fazer negócio.
Só no momento em que tomei a decisão de abrir a minha agência de Eventos e Marketing no Brasil é que tomei consciência do real desafio. Após cerca de 18 meses de estudo e análise do mercado, da busca de sócios locais, da identificação de clientes potenciais, de percepção das barreiras de entrada, decidi por fim, no início de 2011 abrir em São Paulo.
Olhando hoje para trás, existem 3 aprendizagens que repito com frequência para os inúmeros candidatos a empresários e gestores no Brasil:
1) “Cheguei à Finlândia” – esta é a primeira grande rotura de quem vem do ex-colonizador e chega ao território que pensa “familiar” e próximo, quer pelas novelas da Globo, quer por eventuais escapadas turísticas ou mesmo por jornadas de trabalho que se resumam a escritório/hotel/restaurante excelente/hotel/aeroporto.
As diferenças culturais, conceptuais, de linguagem, de ritmo, de racional, de forma de vida, de forma de pensar, de forma de encarar as situações, da forma de decidir, em resumo forma de viver são tão abissais que mais vale pensar que chegamos à Finlândia, com todo o esforço de adaptação cultural e linguística, pois só assim teremos a humildade de aceitar as diferenças, de respeitar o outro e de perceber a verdadeira potencia que temos pela frente.
Enquanto este processo de verdadeira “tropicalização” não se der, serão muitas as desilusões, as frustrações, os negócios perdidos e a vontade de fazer as malas e regressar.
Tal como demonstrámos muitas vezes em países com menor afinidade, o emigrante português tem uma extraordinária capacidade de adaptação e integração. Mas a barreira do facilitismo e do espírito por vezes pouco humilde, face a este paraíso tropical em vez de ser um facilitador revela-se em muitos dos casos observados, um verdadeiro problema.
2) “A sorte dá muito trabalho” – Ao longo de 23 anos de vida profissional, nunca se aplicou tanto este velho ditado. É verdade que as oportunidades se cruzam connosco umas quantas vezes ao longo do ano, como talvez no velho Continente hoje em dia não aconteça tanto.
A chance ou probabilidade de as agarrar depende como nunca, da garra, do drive (velha expressão Unileveriana que muito me persegue) ou empenho e dedicação aplicados e acima de tudo da gestão das competências de inteligência emocional e da capacidade de incutir confiança e respeito nos relacionamentos.
No entanto, longe da realidade estão as fábulas de abanar coqueiros e caírem oportunidades, ou de fecharmos negócios de milhões nos primeiros contatos.
A realidade revela-se bem mais exigente e dura e requer uma dose de resiliência extraordinária, quer em tempo/paciência, quer em tempo/dinheiro.
3) “O Brasil não tem tantas caipirinhas e palmeiras como se pensa…” – Para o grupo enorme de Portugueses com quem nos cruzamos amiúde por todo o Brasil, grupo de profissionais brilhantes nas mais diversas áreas e que com enorme esforço, dias muitos longos e árduos ambientes extremamente competitivos, disputando lugares e posições com alguns dos mais brilhantes gestores mundiais, a visão edílica retratada tantas vezes pelos media portugueses gera muitas gargalhadas (ou risadas como se diria por aqui). Infelizmente a visão da caipirinha na sombra da palmeira raramente se cumpre, e para quem vive nos gigantes de betão como São Paulo, nem a mera visão tranquilizadora e energizante do mar existe.
O custo de vida exorbitante, o trânsito, o nível ainda desconfortável de violência, as distâncias, o custo das passagens aéreas dentro do Brasil e para Portugal, são barreiras por vezes difíceis de suportar e que tornam tudo menos “doces” e “edílicas” estas investidas profissionais por terras de Vera Cruz.
Dito isto e desmistificando estes paradigmas, as oportunidades são fantásticas, as pessoas incríveis, a dimensão inebriante e a extraordinária sensação de que podemos e fazemos diferença, acrescentamos valor e contribuímos para o desenvolvimento, crescimento, profissionalização e verdadeiro despontar de uma das nações mais incríveis do mundo. A sensação de estar no local certo, no momento certo e com a garra necessária. E isso não tem preço…
Vai uma geladinha ?…
A quimera e a realidade.
Não há almoços grátis; nem caipirinhas, nem churrasco. Abr
Os meus sinceros parabéns à equipa IM e, ao entrevistado Miguel Caeiro. As palavras e atitudes são muito reais e de actualidade ! Às vezes, é preciso estar na hora certa, no momento certo, para agarrar oportunidades e, como foi e muito bem dito, a “sorte dá muito trabalho”!