Munidos de smartphone na mão, qual arma no coldre, vivemos o dia a dia na certeza de que algo de relevante vamos conseguir fotografar ou filmar, capaz de ser partilhado nas redes sociais. Sim, porque nada pode passar impune ou longe do novo “Big Brother” partilhado por milhões de novos repórteres espalhados pelo mundo a cada esquina.
Nunca um fenómeno impactou tanto o jornalismo como a revolução tecnológica que colocou nas mãos de milhões de pessoas um aparelho de telefone que por acaso ainda faz ligações, mas que acima de tudo se tornou uma ferramenta multifacetada que inclui uma excelente máquina fotográfica, uma ótima máquina de filmar, um razoável editor de imagens e uma ligação instantânea ao mundo através da internet capaz de transformar o mais tranquilo e desinformado cidadão num repórter em potência.
De facto, dados recentes comprovam a crescente penetração dos smartphones versus os aparelhos de telefone mais tradicionais, mostram também que a utilização de dados e internet se fazem cada vez mais através destes aparelhos e não por computadores tradicionais. É também evidente o crescente peso da fotografia, e principalmente do vídeo no tipo de dados transmitidos e partilhados.
Hoje em dia vive-se em tempo real e em “live coverage”. Nunca sabemos se alguém, no canto mais recatado do restaurante, na fila de trás do cinema, no corredor do supermercado, na fila do banco, não decidiu filmar a nossa pequena discussão familiar, a nossa pequena indiscrição, o nosso pequeno momento de descontrolo, a nossa ridícula falha de comportamento ou a nossa escolha menos feliz de roupa nesse dia. Agora imaginem essa situação aplicada a uma chamada “figura pública”.
É muito comum os serviços noticiosos dos canais de televisão socorrerem-se de vídeos ou fotos de cidadãos anónimos que, por estarem presentes no local do acontecimento, tiveram o discernimento de filmar e enviar para o meio de comunicação, ou, ainda mais comum, soltaram, postaram, deixaram cair, nas redes sociais.
O “jornalismo popular” que hoje enche as redes sociais e até já alguns órgãos de comunicação ditos oficiais, exige de cada um de nós uma capacidade de filtro e de seleção muito maior para não corrermos o risco de sermos também nós viralizadores de um falso testemunho, de uma montagem maldosa ou de uma informação descontextualizada.
Muitos órgãos de comunicação de elevada reputação mundial já se viram obrigados a retratar-se publicamente pelo facto de terem tomado como boas informações chegadas por estes novos “jornalistas anónimos”.
Estamos claramente numa nova fase de Big Brother, não o da casa indiscretamente mais famosa, mas sim o de George Orwell.
Ou como diria Gordon Matthew Thomas Sumner, mais conhecido como Sting:
“Every breath you take
Every move you make
Every bond you break
Every step you take
I’ll be watching you”
Sting.
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