Foi há muitos, muitos anos.
Uma grande marca de soft drinks a operar em Portugal decidiu lançar a primeira bebida, refresco, de maracujá. A campanha para lançamento foi concebida pela segunda maior agencia das que então existiam no nosso mercado e, por sinal, portuguesa.
Claro que o meio fundamental da campanha, senão mesmo o único, foi a Televisão. O filme teve foros de ousadia, para a época. Uma figura feminina vestida apenas com uma reduzidíssima saia de fibras vegetais e um colar de flores dançava ao som de uma ária havaiana, de cariz erótico, tocada por uma guitarra não menos havaiana. Um filme com uma única personagem que dançava sensualmente ao som da tal ária. O pack shot era a garrafa do produto reclinado na areia com o colar de flores “ao pescoço” o qual tinha sido trazido por uma onda espumante.
O lançamento assumiu foros de êxito estrondoso. Contudo, passados que foram quatro meses começaram a acender-se luzes vermelhas:
Baixada a carga publicitária os valores das vendas caíam de forma dramática.
Nova barragem de publicidade e aqueles valores respondiam positivamente.
Reunião formal com a agência de publicidade para a análise da situação e procura de uma solução.
Alguém que não estava no topo da mesa afirmou com a segurança de quem está dentro do dossier: «O problema, meus senhores, é que temos um produto que só vende enquanto tem publicidade». Alguém que não estava no outro topo da mesa, arriscou: «Vai desculpar-me, isso não é o problema. O que acaba de nos dizer são os dados do problema». Confronto educado entre as duas escolas de pensamento e uma judiciosa decisão acordada: Faça-se um estudo.
O estudo foi feito, concluindo: Era reduzidíssimo o número de consumidores que em Portugal continental sabiam o que era maracujá.
Houve realmente grande experimentação por curiosidade, em boa parte ditada pelo mistério exótico do nome e pela abordagem erótica da campanha mas, como sabor novo, parecia não haver razões suficientes para o adoptar.
Contudo, um grupo de consumidores, exclusivamente masculino, respondia ao estímulo publicitário. Mas fazia-o fundamentado em suspeitas: Sendo maracujá um mistério e nada se revelando sobre a sua natureza ou origem era sobre aquela figura feminina, dançante e generosamente pouco vestida, que se fundamentava a suspeitada mensagem de que se tratava de um afrodisíaco ou, pelo menos, tinha qualidades significativas nessa área.
Os seus consumidores bebiam-no, dever-se-ia dizer tomavam-no, à noite antes de recolherem ao tálamo conjugal ou seu equivalente. A decisão da marca foi descontinuar o produto.Nesses anos a taxa de natalidade do país era suficientemente alta para não justificar um investimento num soft drink que contribuísse para o seu aumento ou manutenção O país teve que esperar vinte e quatro anos pelo registo da patente do Sildenafil e que a Pfizer o comercializasse sob a marca Viagra.
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