Panoramicamente alinhados estavam os cartazes da campanha do Turismo de Portugal. Retratos da Costa Oeste da Europa por Nick Knight. Perplexidade. No fundo uma voz silenciosa aconselhava: tenta perceber!
Da tentativa aconselhada foram emergindo questões e dúvidas.
Julguei perceber que aquele Portugal descendente tinha a ver com o país que agora se descobre constituir a costa oeste da Europa.
Julguei perceber que o Miguel Câncio Martins, a Joana Vasconcelos, a Carmo Fonseca, o Nelson Évora, a Vanessa Fernandes, o José Mourinho e a Marisa estavam presentes porque eram portugueses e portugueses famosos, reconhecidos em Portugal e no estrangeiro como gente de valor.
Julguei ainda perceber que Portugal Europe’s West Coast deveria ser elemento fundador de uma campanha internacional promovendo o país junto de populações de outros países.
E aqui começou um penoso rosário de dúvidas, quase inquietações, que provavelmente também ocorrem a quem puser a questão: O que diz este anúncio?
A resposta naturalmente será o head-line: Retratos da Costa Oeste da Europa por Nick Knight.
Parece seja justo suspeitar de que se trata-se de uma campanha de promoção dos trabalhos, os retratos, de um fotógrafo famoso.
É normal e corrente pensar-se que quando se anunciam retratos a figura importante é o fotógrafo, especialmente quando o seu nome aparece conjuntamente mencionado, como autor.
O fotografado será apenas o referente, o objecto da curiosidade do fotógrafo, pretexto para o exercício do seu talento.
Será que o Turismo de Portugal contratou um fotógrafo famoso para dele fazer a estrela da sua campanha no estrangeiro demonstrando que sabe quem é quem no universo da fotografia e tem meios disponíveis para o pagar?
Não é de crer. Seria demasiado provinciano e gesto de novo rico. A autoridade portuguesa do turismo não cairia nessa armadilha.
Será que o fotógrafo exigiu essa condição de estrelato? A história da publicidade desmente tal possibilidade. Os maiores fotógrafos trabalharam para campanhas publicitárias e anonimaram-se porque sabiam que era outra, que não eles a estrela da campanha.
Ensaiemos outra abordagem para tentar compreender.
Se perguntarmos: o que queria dizer este anúncio? surgem outras possibilidades de compreensão.
Portugal Europe’s West Coast parece ser uma mudança de ponto cardeal. Portugal não mais se quer visto como o sol, o sal, o sul ou a rechinante sardinha.
Portugal é gente de talento, de génio. Gente de qualidade, de referência nas áreas a que se dedica. Gente de fronteira oeste europeia como fronteira foi o Oeste para a América. Este é um ponto de vista aliciante e curiosamente camoniano.
Mas, a ser verdade, o head-line devia ser GENTE DA COSTA OESTE DA EUROPA e os nomes daqueles que foram escolhidos para significar essa GENTE/PEOPLE deveriam ocupar o lugar e a proeminência do nome do fotógrafo que apenas deveria constar no cheque com que lhe pagaram o trabalho.
Na história da publicidade portuguesa, que nunca foi escrita, este é um dos casos mais interessantes de execução estouvada (por quem?) de um conceito rico de promessas. Grave porque foi o assassinato, por profissionais, de uma boa ideia.
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