Um dia o Pedro Bidarra contou-me uma história sobre o país onde vivemos. Era o país do um de cada. Num país onde o talento é escasso, tínhamos de nos contentar com ter um de cada: era o Figo no futebol, o Herman na comédia, o Cavaco na política, Manoel de Oliveira no cinema, etc, etc. E tínhamos também um no marketing, um na publicidade…
A actual campanha de promoção de Portugal é por isso a materialização de uma ideia antiga do Pedro. A tristeza é que continuamos a ter só um de cada e os outros têm vários - não sei se a colheita actual vai chegar para impressionar ingleses, franceses, alemães e americanos.
O PAÍS DA COSTA OESTE DA EUROPA
Europe’s West Coast – quando vi pela primeira vez esta ideia de posicionamento para Portugal, achei-a francamente boa. Incluía uma mudança de bandeira nacional, num happening que deixaria o mundo atónito: uma das nações mais antigas do mundo, refrescava a sua imagem, mudando a sua bandeira (que por acaso é a bandeira do partido que fundou a República) e aproveita o tempo nos noticiários do mundo para gritar que agora era a “Europe’s West Coast”, em troca por ser do sul da Europa, próximo de África e um país de preguiça. “Uau – vive la Pub!”
A presente concretização desta ideia é miserável e resume-se à importância do rodapé da campanha, resultando o todo num bonito Frankenstein (i.e.: quando o cliente se mete demasiado na nossa ideia e esta passa a ser outra coisa, resultado de compromissos e de reuniões mal vividas).
O PAÍS AZUL E FRIO
Na estratégia inicial do “Europe’s West Coast” passávamos a ser azuis e brancos, que eram as cores da nova bandeira nacional. Por alguma razão estranha a tudo o que ficou para trás, este conceito cromático vingou agora e Portugal é apresentado ao mundo (e a nós próprios) num tom de azul contemporâneo de fazer corar de inveja a Islândia.
Adeus robalo à beira-mar, adeus calorzinho de Verão, adeus tascas, adeus sangue lusitano na guelra, adeus t-shirts “Portuguese do it better”. Do you believe that, Sam? Do you really want that, Joe?
O PAÍS DE NICK KNIGHT
O headline desta campanha é dominado pelo fotógrafo Nick Knight, que em missão dupla empocha pelo trabalhinho e ainda vê um pequeno país do sul da Europa, a apostar no seu nome para subir de nível e ser mais e melhor reconhecido.
Não existirá aqui uma contradição entre as figuras escolhidas para demonstrar o que existe de melhor em Portugal e ao mesmo tempo a escolha de um célebre fotógrafo inglês? Já percebi: falta-nos um fotógrafo bom e por isso o expediente de transformar o Nick neste fenómeno da nova alma lusa. Who the hell is Nick Knight?
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