(*) Brand Design Manager/Brandia Central e Presidente do Clube de Criativos de Portugal
Quando chegou ao evento vindo de uma filmagem para um filme publicitário, o experiente apresentador contratado para a entrega dos prémios do 13º Festival do CCP lançou, em tom de brincadeira: Onde é que fica o meu camarim? rematando de seguida às nossas gargalhadas: Numa indústria que lida com números tão elevados, como é que vocês vivem com tamanha limitação de recursos?
Respondi ao Rui Unas com os mesmos dados que anunciei ao microfone algumas horas mais tarde, com o ridículo número de sócios com as quotas em dia. Apenas trinta e seis.
Trinta e seis pessoas podem fazer uma festa animada, ou lotar uma tasca no Bairro para umas boas doses de caracóis e imperiais a acompanhar. Trinta e seis pessoas quase lotam o elétrico 28, mas estão muito, muito longe de fazer um clube andar para a frente. Não é um número aceitável para representar o mercado da criatividade comercial em Portugal.
As mais de 700 pessoas que estiveram connosco na noite de 13 de Maio para celebrar aquele que é, sem dúvida, o mais abrangente e reputado evento da area, eram profissionais do design, da publicidade, das produtoras de som e imagem, das agências de meios, dos ateliers, e de inúmeros outros polos de germinação criativa, o que nos permite afirmar que tínhamos, ali sim, uma boa amostra do mercado.
O volume de inscrições obtidos neste Festival, semelhante ao dos últimos anos, reafirma a relevância dessa competição, que envolve diretamente mais de 2.000 profissionais para a realização das peças a concurso.
O número de mensagens questionando resultados, processos ou critérios também denota que há muitos e bons profissionais atentos ao que se passa no CCP. Ainda que fiquem apenas pela contestação, o que é uma pena, não podemos negar a importância de se ganhar um troféu neste Festival, ou ninguém faria caso de não o receber.
Poderia continuar a dissertar sobre a incongruência dos números até gastar o scroll aqui ao lado, mas o que me preocupa é a razão dessa atitude esquizofrénica onde por um lado se dá valor aos prémios e à projeção que eles garantem; e por outro, não há qualquer outro envolvimento ou contributo para que o CCP consiga cumprir melhor o seu papel de promotor e dinamizador da criatividade nacional.
O anuário deste ano está comprometido por razões financeiras, ainda não sabemos se o poderemos editar ou não; mas mais triste do que isso é o fato de termos vindo a publicar esses compêndios para depois armazená-los, já que não há sócios a quem encaminhá-los. Será que vale a pena o esforço que fazemos para cumprir essa nossa determinação em registar o que de melhor se faz no campo da criatividade, se depois esse registo fica a ganhar pó numa cave?
A tradicional presença de elementos portugueses nos juris do ADC*E Awards em Barcelona também está igualmente a ser inviabilizada pela falta de recursos financeiros.
Sem um anuário e sem a presença em Barcelona estaremos a diminuir em muito a capacidade do CCP em saldar o seu compromisso com o mercado, frustrando as expectativas daqueles que têm trabalhado e daqueles que nos têm apoiado nos últimos 14 anos.
Um clube sem sócios é como um carro sem rodas, não vai a lado nenhum. Quando muito poderia servir de improvisado camarim ao Unas.
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