20 de maio de 2011

Opiniões que Marcam

(*) Partner/CEO Excentric


 



Este ano, na cerimónia de entrega dos prémios do New York Festival, foi apresentado um resumo do Gunn Report, um anuário que faz o tracking aos prémios ganhos mundialmente por cada agência e grupo de agências.


 


Na edição deste ano, o Gunn report apresenta uma análise extra muito interessante. Trata-se de uma análise à eficácia comercial das campanhas vencedoras de prémios nos últimos 10 anos. A metodologia utilizada para o efeito não é evidente, mas correlaciona prémios ganhos com Quota de mercado e crescimento.


 


Os resultados são impressionantes. Das marcas que ganharam prémios, 86% são consideradas marcas de sucesso. Embora seja um facto que para que o estudo fosse absolutamente revelador fosse necessário analisar também marcas de não ganharam prémios, 86% é uma percentagem que diz muito.Basicamente comprova que existe claramente valor em investir em ideias criativas, que trazem distintividade e relevância para as marcas. Basicamente comprova que uma boa ideia vale oiro.


 


Esta realidade contrasta a olhos vistos com as campanhas que de um modo geral se vêem em Portugal (exceptuando honrosas excepções).


 


O recurso a fórmulas gastas, o constante focus em comunicar preço, o uso e abuso à recomendação de “celebridades”, a utilização da piada fácil e linear, ou a cópia do que já provou sucesso no passado, são denominadores comuns às campanhas que se criam em Portugal. E por isso, naturalmente é raro ver uma campanha portuguesa a vencer prémios (exceptuando campanhas fantasma e probono, onde a ausência de um cliente a condicionar a criatividade ajuda imenso).


 


Quer isto dizer que não há talento em portugal? Penso que não.


 


Penso que a razão por detrás deste fenómeno é o facto do mercado da comunicação em Portugal estar completamente subvertido na forma como os clientes selecionam as agências para seus parceiros. Mais concretamente, na forma como se discute o preço do serviço prestado.


 


Num dado momento do tempo, naquilo que é sempre uma conversa difícil, a negociação do preço, concordou-se entre clientes e agências que a forma de valorizar o serviço prestado era multiplicar o nºs de pessoas envolvidas, pelo nºs de horas de trabalho, pelo custo dessas horas, acrescido de uma margem que se considerasse “razoável” para uma agência – tipicamente 20%. Embora a criação desta fórmula simples de cálculo possa ser considerada um triunfo para os departamentos de compras dos clientes, pois permite uma comparação directa entre propostas de várias agências, a adopção deste principio de valorização do serviço prestado criou inúmeros problemas, quer para as agências, quer para os próprios clientes.


 


Não nos podemos esquecer que as agências estão no negócio de vender ideias. Vender ideias criadas à medida de cada cliente. Assim sendo, o primeiro problema que se coloca é: quanto tempo demora e de quantas pessoas, para a criar uma ideia que seja realmente impactante?


 


E se uma agência tiver muito talento, de tal forma que consiga ter boas ideias envolvendo no processo menos gente e menos tempo, essa agência deveria ganhar menos que uma outra? De acordo com este sistema, sim.


 


Aliás, este sistema o que faz é precisamente promover a incompetência e a ineficiência. Quanto menos talento tiver uma agência e quanto mais tempo gastar a servir um cliente, mais ganha.


 


A adopção deste sistema, como está a ser feita, revela que o que interessa aos clientes é colocar campanhas – qualquer uma, nos media e deixar os altos investimentos em compra de espaço determinar os resultados. O que é o mesmo que dizer que em Portugal o valor atribuido a uma boa ideia é zero.


 


Esta é uma noção que contraria em absoluto os resultados do estudo do Gunn report.

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