(*) King of Lalaland e CCO da ipingyoupong
A maioria das pessoas ainda não perceberam que a rápida (r)evolução provocada por esta nova era de conexões está também a provocar uma mudança profunda na forma como comunicamos, como nos organizamos, como trabalhamos, como consumimos, ou para resumir, como vivemos.
Nos últimos séculos a sociedade desenvolveu-se em cima de conceitos ligados à quantidade, principalmente a partir da revolução industrial. Mas neste novo mundo estamos a assistir à decadência destas estruturas e à emergência de uma sociedade mais apostada que nunca na qualidade, ou seja, nos aspectos qualitativos em detrimento dos aspectos quantitativos. É o fim da lógica da massificação, em parte responsável por esta enorme crise, financeira, social e ambiental.
Isto quer por exemplo dizer que a grande maioria dos produtos generalistas’, vão-se tornar em commodities, produzidos quase sem intervenção humana, com a mesma qualidade a que nos habituaram as melhores marcas, mas por não terem custos de marketing, comercializados a preços altamente competitivos (dias contados para alguns modelos de negocio de grandes gigantes do marketing)
Quer dizer que as marcas que sobreviverem, e acredito que nenhuma das que insistirem em fazer como faziam estará neste grupo, vão atingir um nível de especialização e costumização sem precedentes, em que será possível uma pessoa ter, por exemplo, uma máquina de lavar loiça que, por um qualquer detalhe, mais ninguém no mundo terá igual.
Quer dizer que se vão inventar outros produtos, serviços e formas de nos organizarmos para trabalhar principalmente porque vão deixar de fazer sentido as ‘linhas de montagem’, e não me estou apenas a referir a fábricas.
Quer dizer que também já não vamos precisar de trabalhar todos no mesmo sitio e às mesmas horas, o que vai acabar, por exemplo com problemas de transito ou com enchentes em restaurantes apenas a uma hora do dia, entre milhares de outros pequenas coisas que hoje damos como inevitáveis.
Quer dizer que cada vez mais, vamos poder viver nos sítios em que gostamos, em vez de termos de viver junto aos locais onde trabalhamos, o que vai obrigar também a uma reorganização da própria dimensão urbana.
Quer dizer que as fronteiras, tal como as conhecemos, vão deixar de fazer sentido e que, se por um lado vamos ser cidadãos cada vez mais globais, por outro vamos ser indivíduos muito mais independentes.
Quer dizer que em vez de sermos representados por pessoas que não conhecemos para dirigirem os nossos destinos, vamos poder todos participar na gestão das nossas comunidades, quanto mais não seja fazendo uns ‘likes’ ou ‘deslikes’.
Isto são apenas ínfimos exemplos de consequências, mais ou menos utópicas que advirão desta nova realidade, mas de uma vez por todas é bom tornarmo-nos atentos aos sinais e começarmos a pensar de outra maneira para, em vez de continuarmos a pensar em fazer mais, pensarmos em fazer melhor.
Continuo a ver a maioria dos profissionais ligados ao marketing, e alguns até ligados às novas actividades de comunicação, a darem uma importância extraordinária aos mecanismos e métricas de antigamente em que quantidade é que era bom. É lógico que se tivermos uma mensagem que queremos que chegue a milhões de pessoas, é bom termos mensagens massificadas ou grandes preocupações com as viralidades extremas de muitos milhões de partilhas, mas será que todos os conteúdos, todas as marcas, todos os produtos, justificam essa preocupação? Por vezes é bom que paremos um pouco para pensar bem no que queremos fazer e quais são os resultados que realmente trazem benefícios tangíveis, em vez de continuarmos cegamente a querer muito dinheiro, muito negócio, muitos clientes, muitos fãs, muito tudo.
A verdade é que a lógica da quantidade fazia sentido num mundo cheio de dinheiro e com pouca oferta (incluindo de informação e cultura). A partir do momento em que o primeiro continua a escassear e a segunda a abundar, isto deixa de fazer sentido.
Morre lentamente a ‘quantidade’, começa o reinado da qualidade.
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