6 de maio de 2011

Opiniões que Marcam

(*) Presidente da GCI


 


Hugh Fearnley-Whittingstall é uma espécie de celebrity chef britânico, não tão conhecido como James Oliver, é um facto, mas com direito a uma página muito completa na Wikipedia.


 


Whittingstall, que acumula a cozinha com o jornalismo gastronómico, é também um activista pela (chamada) comida verdadeira, produzida, de preferência, localmente.


 


O seu activismo levou-o a lançar a campanha de pesca sustentável Fish Fight, baseada num programa de televisão que Hugh desenvolveu para o Channel 4. No programa, o chef descobriu que dois terços do peixe apanhado em algumas áreas da União Europeia é, normalmente, atirado – já morto – de volta ao mar.


 


Isto deve-se a três motivos essenciais: as frotas excedem as suas quotas; apanham peixes mais pequenos e, por isso, menos valiosos; ou, simplesmente, preferem espécies mais caras.


 


Só no Mar do Norte, segundo a Fish Fight, um milhão de toneladas de peixe é atirado de volta ao mar.


 


Conto esta história porque a Fish Fight foi citada pela comissária europeia para as pescas, Maria Damanaki, como uma das responsáveis pela agitação da opinião pública que levou à implementação de um novo projecto para esta área.


 


O projecto, que arranca este mês com a fase de testes, vai remunerar os pescadores que apanhem o plástico espalhado pelo mar, encaminhando-o para reciclagem.


 


O objectivo é fornecer uma alternativa de rendimento às frotas, permitindo assim reduzir a pressão nos stocks de peixe. É que a Comissão Europeia quer proibir os pescadores de atirarem o peixe em boas condições de volta ao mar, algo que estes não vêem com bons olhos.


 


E, na verdade, a recolha de plástico é um trabalho que vários pescadores já faziam – de borla. Com este plano ganham todos: a sustentabilidade ambiental da vida marinha e a subsistência económica dos pescadores – que, por sua vez, também precisam de um mar limpo, portanto anda tudo ligado.


 


“Acabar com a prática de atirar fora peixe comestível é do interesse dos pescadores e consumidores. Não podemos ter consumidores com medo de comer peixe porque odeiam esta questão”, explicou Damanaki, que reconheceu que a indústria pesqueira estava “insegura” com esta “mudança”. “Por isso é que precisam de incentivos”, argumentou.


 


Mas há mais: ainda que seja, numa fase inicial, subsidiado pela União Europeia, o projecto está tão bem feito que prevê a sustentabilidade financeira, a médio prazo, dos pescadores, com a constituição de uma empresa de reciclagem de plástico no mar.


 


É difícil encontrar um plano tão simples e completo como este, um verdadeiro hino ao desenvolvimento sustentável. Ao ter em conta toda a complexidade de temas, interesses e eventuais problemas dos stakeholders, Damanaki terá conseguido uma pequena vitória, ainda que as grandes lutas estejam reservadas para os próximos meses.


 


E se pensarmos que tudo começou em Hugh Fearnley-Whittingstall, um celebrity chef britânico cuja notoriedade é ensombrada por nomes como James Oliver ou Gordon Ramsey, fica-se com a certeza de que a mudança de mentalidades é mais fácil do que poderíamos pensar.

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