21 de abril de 2011

Opiniões que Marcam

(*) – director do Centro de Estudos Aplicados do Instituto Superior de Administração e Gestão


 


Cento e noventa e nove países, entre os quais Portugal, ratificaram durante o ano de 2005 a Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos (UNESCO), afirmando que a identidade de um indivíduo inclui dimensões biológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais.
Também Zohar e Marshall, dois professores da Universidade de Oxford, completaram o quadro geral da inteligência humana com o QEs (Quociente Espiritual), revelando a inteligência suprema do ser humano, o poder transformador do Homem. O processo que deriva da inteligência espiritual une, integra e potencia um centro activo e outorgador de sentido, suportando a transformação ligada à sabedoria para lá da mente consciente, permitindo-nos mais do que a habilidade de seguir valores – a de criar a possibilidade de os ter. Porque ficaria o Homem, uma vez  inserido no ambiente empresarial, fora desta responsabilidade?
Para além do referido contexto, a espiritualidade nas organizações poderá ser considerada como o mais alto patamar da ética empresarial.
Gestão do Inconsciente Organizacional
Também nas empresas encontramos o potencial do princípio animador ou vital do ser humano ( a espiritualidade ), afirmando-se, deste modo, a existência de uma identidade supra humana, impondo-se pela acção do constante relacionamento interdependente entre os players instalados no mercado.
De forma simplificada, costumo explicar a dimensão espiritual dando como exemplo o momento em que nos deparamos com alguém. Deste encontro nasce uma terceira entidade que é a alma da relação; porque seria diferente nas relações empresariais? Por estranho que pareça, esta é – por norma – a única dimensão que perdura para além do tempo e do espaço, sendo a este nível – mais subtil – que se funda o inconsciente organizacional.
E, se a espiritualidade tem a ver com acção logo é produção. Então,  porque não haveríamos de gerir este capital? Para que tal seja possível será necessário assumir um novo regime de serviço e de transparência, só concebível pela abertura dos canais intuitivos/anímicos da relação. O marketing para o terceiro milénio vai nessa direcção.



 
Fig. 1 :  Responsabilidade Espiritual nas Organizações 


A quarta vaga do marketing relacional: proximidade real
Habitualmente explico a dimensão estratégica da espiritualidade nas empresas utilizando a parábola da terceira margem do rio. Do rio que tudo arrasta, dizemos que é violento, esquecendo-nos o quão arrebatadoras são as margens que o comprimem. A violência do rio enquanto questão estratégica não está nele próprio, mas sim nas suas margens, ou seja no constrangimento, tantas vezes imperceptível, que tudo condiciona. Ao transportamos este modelo para as relações humanas em contexto empresarial chegamos ao limite da espiritualidade, surgindo novos desafios e, com estes, um novo  marketing: a quarta vaga do marketing relacional.
Dharma é para os budistas o que guia a mente. Inspirando-se nesta conceptualização o marketing de proximidade real procura estabelecer condições propícias para que as organizações que procuram, nas suas relações, uma dimensão exclusiva, vejam aumentada a atracção, removendo os obstáculos mais íntimos, facilitando a interdependência aos que procuram o nexo que assiste à experiência de mercado.
Ao imaginar o Dharma Marketing proponho um conceito que se inscreve dentro da linha de entendimento do marketing relacional, não esquecendo nunca que as organizações deverão estar focadas em valores, em estratégias,.., dependentes de hábeis negociadores, criativos, empreendedores, que saibam trabalhar sob pressão. Mas, ser-lhes-á isso possível na ausência da consciência holística, na falta de um sentido integral e interdependente para a relação empresarial?! Partindo desta questão surge um novo conceito de marketing que se propõe chegar à mais inconsciente dimensão do psiquismo humano, antecipando o caminho para um marketing de proximidade real.
Certo é que o marketing tem vindo a evoluir na sua orientação, indo para além do produto, da venda, do mercado, do cliente,.. Assim, depois do marketing massificado, do marketing de segmentação, do marketing one to one,.., surge igualmente o marketing orientado para a perspectiva holística da relação: o inconsciente organizacional.
 
Fig. 2 :  Marketing de Proximidade Real


Mind Sets
A sintonia com o princípio transcendente e transpessoal proporcionado pelo Dharma Marketing é um diferencial não completamente espontâneo, cumprindo às empresas apostar numa formação complementar em mind sets, ou seja, em técnicas milenares (adaptadas à realidade organizacional) que estão para além do discurso. O Dharma Marketing  vai no sentido de valorizar esta rotina. Vejamos alguns exemplos de práticas que agilizam a via espiritual nos negócios.
 
Fig. 3 :  Formação complementar no Dharma Marketing
A proposta do Dharma Marketing é uma forma sustentada de revolução organizacional, isto porque passamos a perceber a realidade empresarial do ponto de vista do paradigma quântico, levando em consideração a capacidade da consciência de todos os implicados na relação interferirem na criação de uma percepção comum.
Apelando à interdependência nos negócios, este efeito introduz-nos num ambiente de elevada proximidade e confiança, garantindo relações mais transparentes, e consequentemente de maior prazo, aumentando o QEs (Quociente Espiritual) de todos os parceiros implicados.
Acredito que a competência organizacional, não depende exclusivamente de um conjunto de formalidades, de motivações externas ou materiais, existindo um grupo alargado de padrões não convencionais/inconscientes que constantemente interferem nas decisões empresariais, tornando-se, também por isso, necessário agir a um nível mais íntimo, exclusivo, muito especialmente quando pretendemos fundar-nos numa dimensão tão profunda quanto a espiritual.
Com o Dharma Marketing procura-se um impacto significativo nos negócios, ou, pelo menos, dar às suas competências conotações mais amplas, no que respeita à empatia que leva à fidelização, isto através de  benefícios transformadores de quem os produz, bem como dos seus públicos relacionais. Só assim, o líder espiritualizado  será aquele que consegue conduzir-se a si mesmo através da mais  profunda responsabilidade, garantindo e inspirando o cumprimento do propósito da organização na afirmação de valores estratégicos maiores que toma como seus, auto-realizando-se por esta via.
Concluindo, direi que de uma forma ainda superficial, também o neuromarketing nos revelou um mundo demasiado complexo, trazendo de volta a necessidade de uma abordagem mais holística às  questões relacionais, comprovando o aspecto reducionista do foco – exclusivo – na constante tensão entre impulsos eléctricos cerebrais, quando pretendemos avaliar necessidades e desejos humanos. Aliás, muitos anos antes Schopenhauer já teria lançado este mesmo aviso ao afirmar que o Homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer. Estas circunstâncias, ao se afigurarem como não exclusivas da área comportamental, radicam-se, necessariamente, ao nível das mais subtis competências, sendo a este nível que o Dharma Marketing se torna imprescindível.
Paulo Vieira de Castro, . Inner Leadership Coach. Consultor de empresas. 

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