11 de abril de 2011

Opiniões que Marcam

(*) Professor de Marketing da Faculdade de Economia do Porto


 


 


Começo com um aviso: não sei nada de sociologia nem de ciência política, mas sei alguma coisa de marketing. Por isso, o que vou dizer a seguir reflecte a visão de um marketer que pretende ajudar o País a ultrapassar os desafios que o esperam, sem prejuízo de reconhecer que outras perspectivas são fundamentais neste domínio.


 


Na área do marketing tem-se vindo a estudar, há já longos anos, a qualidade do ponto de vista do cliente. Esta depende fundamentalmente da comparação que o cliente faz entre a percepção do produto que lhe está a ser oferecido e as expectativas que tinha relativamente ao mesmo. Ficará satisfeito se a percepção corresponder pelo menos às expectativas e insatisfeito se aquela ficar aquém destas.


 


Isto significa que assegurar a satisfação dos clientes não exige apenas uma adequada gestão da qualidade do produto mas também das próprias expectativas. Criar grandes expectativas pode ser uma excelente maneira para se atrair o comprador, levando-o a adquirir aquilo que temos para vender. Mas pode também ser uma “excelente” forma de o tornar insatisfeito caso as expectativas não sejam atingidas. Por outras palavras, criar grandes expectativas pode fazer com que se consiga um comprador mas com que se perca um cliente.


 


Em suma, as expectativas são uma “faca de dois gumes”: há que elevá-las para se vender, mas elevá-las demasiado pode gerar insatisfação – o que significa, eventualmente, nunca mais vender ao mesmo comprador.


 


O que tem isto a ver com o nosso País?


 


Todos sabemos que a resolução dos actuais problemas de Portugal passa por medidas que vão exigir sacrifícios. Também, sabemos que grande parte dessas medidas será imposta de fora. Agora, o que é preciso é que os Portugueses não as aceitem de forma resignada e como uma fatalidade. É preciso que as encarem como um desafio, como um factor crítico para o sucesso futuro do País. Isto é, não só como o “arrumar da casa” mas também como um investimento cujos frutos virão a ser colhidos no futuro – esperemos que não demasiado longínquo!


 


Ora, para que tudo isso aconteça, não basta que os Portugueses “comprem” a ideia da necessidade dessas medidas. É necessário que a elas adiram e nelas se revejam durante os próximos anos. E para evitar um desencantamento generalizado, mais vale não criar grandes expectativas de curto prazo. Mais vale dizer a verdade, não escondendo a real dimensão dos sacrifícios que aí vêm.


 


Não se trata apenas de uma questão de ética política e governativa (o que já por si não é pouco!). Trata-se também de uma questão de marketing. Não elevar as expectativas a curto prazo pode ser condição sine qua non para evitar insatisfação. Ou seja, pode ser condição para, a prazo, se conseguir um verdadeiro envolvimento com o projecto que se vier a delinear para o País.


 


Em suma, no curto prazo há que dizer aos Portugueses que aquilo que os espera é “sangue, suor e lágrimas” – isto é, há que evitar criar grandes ilusões. Mas no que toca ao médio prazo, há que criar expectativas de uma vida melhor, sob pena de não se conseguir uma adesão ao plano de recuperação. E para isso exige-se, acima de tudo, um projecto mobilizador a 4 ou 5 anos que dê razão de ser aos sacrifícios agora pedidos.


 

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