(*) Director do portal Sapo
A privacidade é um tema quente e parece cada vez mais difícil conciliar o conceito mais tradicional de privacidade com os serviços e ferramentas que todos os dias aparecem na Internet. Uma pesquisa no Google ou um olhar rápido pelo perfil de uma pessoa no Facebook ou no LinkedIn dizem-nos hoje muito, talvez demais, sobre essa pessoa, o seu historial, e as pessoas com quem se relaciona. As regras não são claras e os tratamentos significativamente diferentes que a as leis europeias e norte-americanas dão ao tema também não ajudam.
Mas em termos de privacidade as preocupações vão muito mais além do perfil do Facebook. A Rapleaf, uma empresa de data-mining criada recentemente nos Estados Unidos, apresentou um estudo onde comparou os padrões de compra de produtos de mercearia de trabalhadores da Microsoft e do Google. Para isso recorreu à sua base de dados para identificar 6.000 trabalhadores do Google e 16.000 trabalhadores da Microsoft (através dos endereços de e-mail utilizados nos registos: @google.com e @microsoft.com) e fez uma parceria com uma empresa de cartões de fidelidade que permanece ainda anónima para poder cruzar informação.
Os resultados têm tanto de interessante como de preocupante. A Rapleaf “tornou” anónimos os registos pelo que não é possível, pelo menos para nós, identificar pessoas no estudo, mas a informação que conseguem retirar deste estudo é impressionante pelo nível de profundidade a que conseguem ir, e pelo que, com alguma imaginação se pode fazer com outras informações, menos “simpáticas” de processar.
Ficámos assim a saber por exemplo que os empregados do Google gostam de bacon e gelados, mas tentam balancear a roda alimentar adquirindo mais frutas e vegetais do que os empregados da Microsoft. Os empregados da Microsoft são, em média, mais velhos e compram mais manteiga (indiciando que cozinham mais em casa) e vitaminas. Compram também mais comidas para cães e gatos, e brinquedos, o que indicia que há mais famílias constituídas na Microsoft do que no Google.
Foram ainda um pouco mais longe e analisaram marcas chegando à conclusão que os empregados do Google gostam mais de Doritos e Mountain Dew e os da Microsoft de Cappri Sun e bolachas da Orville Redenbacher.
Para os marketeers trata-se de mais uma interessante fonte de informação que bem usada pode fazer a diferença nas estratégias de produto, mas mais do que nunca, o tema da privacidade é incontornável.
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