(*) Miguel Rangel, Director de Relações Institucionais, Marca e Comunicação Sonae
Tive durante a passada semana duas reacções diametralmente opostas e que têm em comum apenas o facto de resultarem do visionamento de dois filmes.
Um é um filme publicitário e pretende reforçar um determinado posicionamento e imagem; o outro é uma longa metragem que, não tendo qualquer objectivo publicitário ou de posicionamento, acaba por impactar bastante a imagem da cidade onde o enredo se desenvolve. O primeiro é o mais recente filme do Turismo de Portugal (ver aqui); o segundo é o mais recente filme de Alejandro González Iñarritu – Biutiful (ver trailer aqui);
Tenho plena consciência que os propósitos e pressupostos de construção de um e outro são totalmente diferentes e por isso poderá parecer um pouco absurdo colocá-los em algum ponto de comparação no entanto, na minha opinião, o mérito do efeito de um é exactamente oposto ao demérito do outro
É inquestionável a elevada mestria com que Iñarritu nos faz viver os dramas das vidas que “Biutiful” atravessa, no entanto o facto é que toda aquela frontalidade, crueldade e em alguns momentos brutalidade das situações me fizeram alterar a imagem sobre Barcelona, cenário onde o enrendo se desenvolve. Se muitas das situações decorrem em ambientes inóquos outras porém decorrem em locais bem identificativos da cidade. Saliento o impacto negativo que a presença de alguns corpos de emigrantes ilegais chineses, mortos, flutuando nas praias frontais ao Porto Olímpico, têm na imagem que a cidade pretende ter perante o mundo; perceber-se, no filme, a forma como a polícia e emigrantes ilegais convivem numa economia paralela, de equilibrio difícil, que culmina numa batalha campal entre as partes em plena “Plaça de Catalunya” é no mínimo assustador.
Barcelona perdeu, involuntariamente através deste enrendo, alguma da magia que tinha de cidade positiva, onde se vive bem a vida, onde a diversão, a cultura e o cosmopolitismo se cruzam com as múltiplas nacionalidades que a atravessam. Neste filme levamos “um soco no estômago” de realismo, pois vemos o que está por debaixo dessa magia – as condições sub-humanas de familias chinesas e senegalesas no contexto da grande metrópole; a imagem das grandes avenidas populadas por artistas foi substituída por planos frequentes de um caos urbanístico contínuo, culminado por altas e intermináveis chaminés que expelem um fumo denso e ameaçador. Numa altura em que se discutem as virtudes e ferramentas do Marketing Territorial, não creio que este filme tenha sido um boa referência para a marca Barcelona.
E assim terminei um dos dias da última semana.
Ainda um pouco atordoado do “soco no estômago” da noite anterior, abro um mail na manhã seguinte e visiono o trabalho que a Krypton e o Rogério Bolt fizeram recentemente para o Turismo de Portugal. Ao fim dos quase 2 mins de filme o meu dia ficou melhor e levei como que uma “injecção de adrelanina”, para cada vez mais acreditar que vale a pena lutar por este país, por esta realidade simples que todos partilhamos e sobre a qual temos total responsabilidade de preservar. Há que deitar para trás das costas os pensamentos miserabilistas, derrotistas e catastróficos apregoados por muitos e até cantado por outros, qual revivalismo das velhas cantigas de intervenção. Não é disso que o nosso país precisa para melhorar a sua imagem; precisa sim de confiança, de veracidade e de simplicidade.
Obrigado Rogério, Krypton, Portugal…Simplicity is (really) Biutiful.
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